O gigolô e a poesia
* Por
Alberto Cohen
As ideias vagam pelo
mundo esperando que as palavras venham desencantá-las. Às vezes, são dóceis.
Ariscas e arredias, quase sempre.
Pois bem. Aqui estou
escrevendo mal traçadas linhas que, para surpresa minha, algumas pessoas
gostam. Eu não! Se pudesse estava nas festas, nas boates, nos cinemas, ao invés
de ficar olhando horas a cara quadrada do computador.
Deus sabe o que faz.
Destinou uns pobres coitados a coletores de imagens que os outros só enxergam
quando já estão escritas. E não existem alternativas: quem nasce com o fado, é
poeta ou poeta frustrado. Não adianta correr. Os poemas voam e aguardam lá na
frente, nas esquinas e encruzilhadas, rindo ou chorando, a passagem do fujão
para subjugá-lo.
Comigo foi assim.
Estive escondido em diversas profissões, trocando de automóveis, disfarçado com
negras togas, até procurar, como último recurso, refúgio nas delegacias de
polícia. Tudo inútil. A poesia seguiu meus rastros, encontrou-me e... “passa já
pra casa!”.
Até dormindo, ela me
chama com promessas de carinhos, tão logo eu escreva “umas bobagenzinhas”. É
bom que se diga que essas “bobagenzinhas” vão pela noite afora e, quando volto
para o quarto, a mulher de codinome poesia já foi embora e só me resta tentar dormir
novamente.
Que fazer? Se me
incomoda, de outra forma sinto sua falta nas ausências. E vamos vivendo às
expensas de rimas e metáforas recolhidas numa transa e outra com as letras, as
palavras e o papel.
*
Poeta e escritor paraense
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