Diário de um jornalista atormentado
* Por
Vitor Orlando Gagliardo
Roberto está sentado em
sua cama, com o rádio ligado e lendo o jornal. Leu uma ou outra matéria sem
muita atenção. Está pensando em outra coisa. Fechou os olhos, respirou fundo e
separou os cadernos de esportes e emprego. Para sua tristeza, nenhuma novidade:
seu time mais uma vez perdeu e nenhuma oportunidade de trabalho.
Roberto é jornalista.
Desde criança era seu sonho. Suas redações sempre foram elogiadas durante seu
período colegial. Na faculdade conseguiu fazer bons estágios, mas nenhum que
garantisse a chance de ser efetivado.
A canção no rádio é uma
de suas preferidas. Por um instante, perde-se em seu inconsciente. Rapidamente,
volta ao normal.
Roberto resolve sair
para dar uma volta. Na primeira esquina encontra uma senhora que não via há
anos. Dona Magali era uma viúva por volta de seus 70. Foram vizinhos durante
anos. Em uma rápida conversa (não para Roberto), Dona Magali pergunta sobre sua
profissão. Quando ele disse que era jornalista, ela não se conteve e sorridente
falou:
- “Ainda vou te ver na
bancada do Jornal Nacional”.
Roberto despediu-se
rapidamente e seguiu seu caminho. Aquela frase não era novidade. Soava como um
bom e velho clichê. Mas não era a frase que pretendia ouvir, ainda mais naquele
momento. Definitivamente, não era.
Desde que se formou,
lutava para conseguir um emprego fixo na área. Participava de palestras,
congressos, cursos e nada. Procurava se atualizar a cada momento. Para sua
sorte contava com ajuda financeira dos pais.
Nesse pouco tempo de
formado fazia seus bicos na área. Sempre atuando de forma autônoma, conseguia
uns trabalhos de assessoria, mas nada que garantisse seu sustento.
Nos últimos dias,
depois de tanta insistência, conseguiu um contato com uma editora de uma grande
revista de circulação nacional. Após várias pautas recusadas, ela aceitou a
mais recente.
Diante da possibilidade
da publicação de sua matéria, Roberto não conseguia dormir nem se alimentar.
Estava ansioso, inquieto. E se a matéria caísse? Ele preferia nem pensar nisso,
embora o assombrasse.
Faltando um dia para a
revista chegar nas bancas, Roberto olhava para o relógio (e a hora teimava em
não passar). Foi no jornaleiro três vezes e nada. Só no dia seguinte conseguiu
comprar a revista.
Roberto conseguiu. Não
conteve sua emoção e mostrou para todos (conhecidos ou não) seu texto. Ligou
para a amigos e familiares.
Dois meses após a
publicação, Roberto segue confiante e na maioria das vezes ansioso, para
conseguiu mais um aval da editora para iniciar a matéria. Ele agora é freelancer.
Mas até agora ela não respondeu e ...
* Jornalista
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