O posto do Zé Pereira
* Por Leandro Barbieri
Região
central de São Paulo. O posto de gasolina é um daqueles que perdeu a bandeira e
se manteve com um nome exótico. Depois das dez da noite o movimento é pequeno.
Mas fica aberto vinte e quatro horas. Claro, tem loja de conveniência.
A
loja e o posto são do mesmo dono. Um turco que não é de freqüentar. Só retira.
A administração fica por conta dos funcionários mais antigos. Nas bombas, seu
Jorge. No balcão, o Bira. Se detestam.
A
picuinha começou na sinuca do bar. Mas ninguém sabe o motivo. Primeiro porque
faz tempo. Segundo porque, dos funcionários atuais, só o Morais já trabalhava
lá na época. E ele não estava muito lúcido naquele dia. Formaram-se dois
grupos. Concorrentes. Os ramos são diferentes. O patrão é o mesmo. Mas
concorrem.
O
cliente estaciona no posto. Manda abastecer. Ameaça comprar uma balinha ou
beber alguma coisa e é imediatamente impedido pelo papo de algum frentista.
Desaconselhos, distrações. Vale tudo. Mas nem sempre funciona. Aí partem pra
provocação:
Chama
o balconista de Paraíba!
O
Bira detesta esse apelido. Primeiro porque é pejorativo. Segundo porque
Salvador não fica na Paraíba.
-Paraíba?
Chama ele de Zé Pereira.
Aí
é Seu Jorge que espuma de raiva. Ninguém entende porque. Mas espuma.
A
provocação ficou famosa. Os clientes mais antigos já chegam gritando. Fala Zé
Pereira! Manda uma Coca, Paraíba! Tem dias que se arrependem. Não deviam ter
espalhado.
* Roteirista, diretor e pesquisador de Telenovelas nacionais. Escreveu
Retrato da Lapa (a primeira novela da TV a Cabo brasileira) e Umas &
Outras (a primeira novela da Internet), as quais também dirigiu em parceria com
Silvia Cabezaolias. Assina o roteiro da webnovela Alô Alô Mulheres na
allTV, onde é diretor do núcleo de dramaturgia.
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