O leão
* Por Catule Mendès
Como, por ser cristã,
recuasse altaneira,
aos ídolos pagãos de barro e
de madeira,
nas festas de curvar, e
queimar-lhes o incenso,
--- nesses tempos cruéis de
paganismo intenso,
sem vencê-las poder com
ameaças severas,
o pretor ordenou que fosse
lançada às feras;
e porque virgem era e trêmula
corava,
quando o olhar de um juiz
lascivo a contemplava,
em cláusula formal, num édito
contida,
decretava que fosse ao
martírio despida,
nua, o seio a encobrir com as
mãos e com os cabelos,
ela no circo entrou...
Logo, eriçando os pêlos
famulento leão, a rugir de
fereza,
do cárcere saltou e foi
cheirar a presa...
Viu o povo invejoso esse
corpo imponente,
tão branco, junto àquela
enorme fauce ardente,
e mostrava, a ranger os
dentes de luxúria,
ritos de beijos mil da mais
lasciva fúria!
E ela ao seio puxava o cabelo
divino...
Neste ínterim, o leão,
instintivo assassino,
entreabria medonho a goela
carniceira.
“Leão...” disse a cristã.
Eis que ali, na poeira,
dócil e silenciosa a fera
então se deita...
E, ao pasmo olhar daquela
gente, ao sangue afeita,
esquece a longa fome
horrível, que extenua,
para os olhos fechar diante
da virgem nua!
Tradução: Álvaro Reis.
* Poeta francês
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