Escrevo...
* Por
Francisco José Pessoa
Escrevo sim, para
completar o pouco de tempo que me resta, tentando enriquecer-me
espiritualmente, pois a fortuna material faria
pesar ainda mais meu caixão. E vai ali um pobre rico, que soube brincar
com a vida, tornando-a um carrinho de lata de doce de goiabada, Real, por
sinal, a rolar calçadas íngremes num desafio constante ao subir e descer
coxias.
Alimento-me com o bater
dos teclados, orquestra sinfônica das minhas várias noites mal ou bem dormidas.
Sorvo o néctar dos sábios, mesmo sabendo que sou incapaz de assimilá-lo, mas tento outra vez por ser teimoso. E no ir
e vir das minhas falanges , apertando cada tecla como num amor de batráquio,
satisfaço-me e chego ao orgasmo falso dos falsos escritores. Assim me vejo no
meu crítico espelho.
Quanto de devo ó
ciência, pois poupaste meu tempo em corrigir meus erros ortográficos, bem como
de desgastar as páginas já amareladas e carcomidas do meu Aurélio. Mas escrevo
de modo um tanto compulsivo, como no afã do asmático que traga o ar que lhe
rodeia, fazendo da eternidade aquele momento. Que bom seria se eu fosse poeta,
traduzindo nas minhas linhas o cotidiano, o que a vida me dá e o que tiro
dela... seria uma comédia própria não dos teatros da fifth avenue, mas dos circos
que percorrem o sertão do nordeste, com suas lonas remendadas, castigadas por
um sol sempre presente e pela chuva que acanhadamente, às vezes aparece.
Quão bom é brincar de
escrever pois, as idéias e os cenários que passam uns após outros nos transportam
para o vale dos sonhos aonde os homens se amam e a paz é a mediadora dos
entreveros que não existem. Onde a graúna no seu canto mavioso brinca com os
acordes, liberta em pleno vôo. Onde o crocodilo abre seu bocão que aterroriza,
mas verte lágrimas com um olhar piedoso. Onde o beija-flor no seu incessante
bater de asas, desfiando a lei da gravidade, suga o néctar das rosas, papoulas
e margaridas que harmoniosamente compõem e fazem o equilíbrio crômico do meu
jardim, por que não meu éden?
Escrevo, escrevo sim,
para eternizar para os meus pares o meu tísico pensamento, a minha às vezes tão
comentada e criticada maneira de ser, que com certeza e, assino embaixo, nunca
teve um tempero de maldade ou falsidade, pois, escrevendo, rumino um pouco do
meu eu que, quisera Deus, fosse um alívio para os que sofrem mais que eu.
Vida, minha vida, como
fresco contigo minha quenga virgem.
* Escritor
Nenhum comentário:
Postar um comentário