As máscaras do Black Bloc
* Por
Urariano Mota
Dizem que Black bloc é
uma tática para protestos e manifestações de rua, onde os participantes se
utilizam de roupa preta, máscaras, capacetes, que escondem o rosto. Isso em
teoria, claro. No obscuro, adotam máscaras para a destruição do que imaginam
ser objetos capitalistas, e depredam, invadem e destroem o patrimônio de
pequenos comerciantes, como donos de bancas de jornais, tocam fogo em carros de
trabalhadores, quebram vitrines e portas de bancos. E enfrentam a polícia, à
sua maneira, provocam e se escondem. E provocam com tal arte, que atraem para
suas fileiras policiais, mas sempre de máscara.
Daí que muitos governos
estaduais tentaram criar leis disciplinando a utilização de máscaras. De caras
limpas, poderíamos vê-los no momento da consumação do crime. Mas na verdade,
amigos, as máscaras dos black blocs foram utilizadas antes.
Confundidos com a
massa, primeiro eles eram os manifestantes contra o aumento da passagem de
ônibus; vitoriosa essa bandeira, passaram à reivindicação da tarifa zero para a
população; depois, contra a corrupção, em geral; depois, contra os desgovernos
federal, estaduais e municipais; e de quebra, diria melhor, de quebra-quebra,
bandeiras e faixas contra o Mais Médicos, contra a presidenta Dilma, contra os
políticos em geral. E passaram a jogar bombas nos prédios da Câmara de
Deputados, assembleias legislativas, câmaras municipais. Aplausos, muitos
aplausos da mídia. Viva a juventude inconformista que contesta as velhas
bandeira da esquerda, que são contra partidos políticos, contra os políticos.
Viva. Salve. Aplausos. Bravos. Havia até um bordão nos noticiários: “o protesto
continuou pacífico, mas..” e apareciam imagens dos efeitos colaterais,
secundários, das invasões e desrespeito à democracia. Parece mentira, mas
este era o tom:
“Protesto reúne mais de 10 mil
pessoas e faz ‘tremer’ a rampa do Congresso Nacional” era
a notícia e o canto do entusiasmo. E mais: “A onda de protesto que há duas
semanas sacode o país tomou contra do Congresso Nacional, em Brasília, em uma
noite histórica para jovens e adultos que ocupam neste momento parte da
chapelaria e da rampa que dá acesso à sede do Poder Legislativo. O dia 17
de junho nunca mais será o mesmo. Foi quando no ano de 2013 manifestantes
puderam extravasar a sua angústia e revolta diante dos graves problemas do
país”.
Os Black blocs na massa, assim mascarados, tiveram o apoio e simpatia de mais amplos setores da mídia, foram até saudados por cabeças de colunistas como “o dado novo” da política brasileira. E não viam, não queriam ver ou faziam de conta que nada enxergavam os excessos, bobagens como espancamentos de militantes socialistas, queima e destruição de bandeiras, repressão à voz partidária. Ah, uma coisa secundária. Os jovens porque os jovens porque os jovens, e a faixa etária virou uma categoria política e ideológica. Que digo? Uma categoria nova de revolucionários. Mas agora temos um cadáver no seio da própria imprensa. O que fazer diante dos meninos que são mais loucos do que imaginávamos?
No entanto, os Black
bloc e apoiadores não fizeram autocrítica. Escondem-se do crime, mas continuam
com o mesmo discurso. Nas suas páginas continuam:
“Manifestantes que se diziam ‘Brabos’ agora estão com medo e
expondo a imagem de pessoas que não tem nada a ver. NÃO TEM OUTRO NOME PRA ISSO
DO QUE COVARDIA E TRAIÇÃO.
SE CONTINUAREM, MEDIDAS SERÃO TOMADAS
Vamos expor todos os ‘falsos manifestantes’
Batem nas suas costas dizendo que são irmãos, mas
na verdade estão ali pra te f¨%$ e expor sua vida quando percebem o perigo se
aproximando. NÃO TEM A CAPACIDADE DE ENFRENTAR E ENTÃO PONHE O DO OUTRO PRA
TIRAR O SEU DA RETA.. COVARDES!
É isso que o governo quer (não sermos unidos e com isso diminuir as manifestações). Essa é a hora onde separamos claramente os verdadeiros dos traíras!
NÃO PASSARÃO
AGUARDEM”
E no mesmo nível da
evasão escolar acima, invadem os comentários: “Eu
admiro vcs!!!! Não se abatem nunca... Vcs lutam pelos ignorantes desses pais
que elegem os políticos merdas...”. E
escrevem lá a nova bandeira: “Brasil, país de merda”.
E links do gênero Vandalismo é Art.
O que desejam, além do
caos? - Um golpe salvador de direita. Uma ditadura sem máscara. Daí que
as investigações do assassinato do cinegrafista Santiago Andrade se dirijam
agora contra partidos de esquerda. Na aparência, isso é um efeito colateral
da ação dos Black contra os partidos em geral e contra a vontade do povo
em particular. Na verdade, é mais, era até previsível. Ainda é tempo, esperamos
que ainda haja tempo, de aprofundarmos uma crítica a esses novos fascistas. O efeito
colateral é a sua essência.
*
Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da
redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações
Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici e “Soledad no Recife”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao
ensino em colégios brasileiros.
Quando mencionei que os black blocs eram de direita, lá no Facebook, quase fui apedrejada. Pelo menos mais um que pensa como eu.
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