Produtor
e consumidor de artes
O artista – em especial o
escritor e mais particularmente o poeta – desenvolve, com anos de exercício, uma
aptidão que se iguala (e muitas vezes supera) a do psicanalista: a de explorar seu
subconsciente. O motivo dessa exploração é que é diferente nos dois casos. O
primeiro procura emoções que lhe sirvam de matéria-prima para a produção de
obras de arte. Já a finalidade do segundo é detectar, quando possível, a origem
de doenças ou de desvios comportamentais, tidos, óbvio, como anormais, Sons, imagens, odores, sensações agradáveis
ditadas pelos cinco sentidos, são transformados pelos artistas (que valorizam e
dão nobreza à vida humana) em melodias, telas, esculturas, palavras que formam
metáforas bem ajustadas e harmoniosas, cada qual de conformidade com a
categoria artística de que é integrante. Com o talento de que são dotados, nos
transmitem suas emoções, às quais agregamos as nossas, ditadas por nossa
própria sensibilidade e experiência pessoal. Já o psicanalista vale-se dessas
características para identificar a fonte de sofrimentos de seus pacientes e, de
alguma forma, eliminá-la ou modificá-la.
Concordo, pois, com quem entende
que a arte é obra coletiva, embora tenha um só e isolado produtor. Envolve quem
a expressa, no caso o artista, e quem a “consome” O simples fato de uma pessoa preferir
determinada sinfonia, pintura, escultura ou poema, por exemplo, em detrimento
de outra obra do gênero, caracteriza uma espécie de pareceria entre o autor e o
consumidor de arte, sem cuja existência esta não faria qualquer sentido. Nenhum
escritor, por exemplo, (mesmo que afirme enfaticamente o contrário) escreve
para o próprio deleite. Redige para que outros leiam. E esses leitores tanto
podem concordar, total ou parcialmente, com o que esse indivíduo escreveu,
quanto discordar liminarmente e, por essa razão, deixar de ler novas produções
desse redator por não gostar, por exemplo, do seu estilo, ou de suas idéias ou
seja lá do que for. No caso, a primeira impressão é a que fica no espírito do “consumidor”.
O mesmo vale para artistas de outras
artes.
Quem aprecia música, por exemplo,
dificilmente gostará de “todos” os gêneros musicais. Às vezes isso acontece, é
verdade, mas quando ocorre, está rigorosamente mais para exceção do que
propriamente para se constituir em regra. O sujeito pode gostar muito de óperas
(ou de sinfonias ou de outro gênero clássico) e detestar rock, ou jazz, ou
reggae, ou samba, ou qualquer modalidade de música popular. O raciocínio é válido
para todas as artes. Daí eu entender que não é forçar a barra, como muitos
podem interpretar, a afirmação de que quem “consome” arte é parceiro de quem a
produz. Um não vive sem o outro. Mesmo quem aprecie ópera, por exemplo, pode
não gostar de “todas” as composições do gênero. Ou das obras compostas por “todos”
os compositores desse tipo de música. Ou mesmo, de “todas” composições do mesmo
artista de sua predileção.
O instinto fundamental do animal
homem é o de auto-preservação, ou seja, o de defesa implacável, levada às últimas
conseqüências, do Ego. Sem a interferência de características adstritas à
razão, tende a destruir tudo e todos que intua que, de alguma forma, lhe pareçam
representar ameaça. Essa é a característica humana mais primitiva, radical,
animal, a que antecedeu a qualquer tipo de “civilização”. Albert Einstein, em
um de seus livros, observou: "O valor do homem é determinado, em primeira
linha, pelo grau e pelo sentido em que ele se libertou do seu ego". A arte
é uma forma de libertação. Daí implicar em “parceria” entre produtor e
consumidor, ou seja, partícipe, posto que passivo, do processo artístico.
O homem, mesmo o dito civilizado,
que aprendeu a manter sob controle seu Ego, oscila entre a emoção, incontrolável
pela mente, e a razão, exercitada pelo lado voluntário do cérebro, pela parte
consciente e treinada mediante um condicionamento que denominamos genericamente
de “educação”. Temos, todos nós, posto que em dosagens variadas, esses dois
componentes da inteligência (capacidade de entender o que nos cerca ou de cuja
existência tomamos conhecimento).
A parte racional utiliza-se da
"lógica" para a compreensão dos objetos e dos fenômenos. Prepondera
nos cientistas de quaisquer áreas das ciências (exatas, humanas, biológicas
etc.). O lado irracional entrega-se à emoção, apanágio, sobretudo, dos
artistas, notadamente dos poetas. Para uma vida equilibrada, produtiva e feliz,
porém, a intuição me indica que devemos cultivar, em doses exatas, esses dois
componentes, controlando emoções destrutivas, estimulando as positivas e
pautando nossos atos pelos rigores da razão.
As pessoas que se julgam
extremamente racionais agem como se o animal humano fosse robô, capaz de ser
programado para reagir aos estímulos com atitudes absolutamente lógicas e
controladas. Os indivíduos até que são treinados para isso. Acabam, no entanto,
traídos pelas emoções. Daí o conjunto de normas morais e de leis existentes no
mundo ter sido impotente para acabar, ou sequer reduzir, a criminalidade, por
exemplo. Pelo contrário. Apesar das punições serem cada vez mais severas,
culminando com a pena de morte, os delitos crescem, por uma série de causas,
entre as quais a impossibilidade de completo controle sobre as paixões. O homem
ainda está em pleno processo de evolução, de construção, de transformação que
pode, ou não, resultar num ser melhor, digamos, “ideal”. Espero ter sido claro
nessas complexas reflexões e tê-lo feito, antes e acima de tudo, caríssimo e
paciente leitor, cúmplice, parceiro, copartícipe da minha produção literária.
Sem você, nada do que eu escrever fará o mínimo sentido.
Boa leitura.
O Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter; @bondaczuk.
Concordo que tenha ficado confuso, mas ainda assim útil.
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