“Respeito é bom e a gente gosta”
* Por Mara Narciso
A diferença entre arrogância e
prepotência é que na primeira você mostra altivez, soberba, orgulho, ou, no
pior sentido, insolência e atrevimento, diz o Aurélio, e na segunda não há
poder alegado, mas real, exercendo influência, oprimindo e agindo de forma
despótica (mesma fonte). O arrogante pensa ter a força e o prepotente a tem.
Quando os políticos fazem fila em direção à cadeia, nos lembramos das
“carteiradas” que uns e outros dão por aí, inclusive os citados, buscando
ganhos indevidos, seja numa fila, lugar onde todos deveriam ser iguais, ou para
escapar das suas responsabilidades. Quem age desta forma não se acostumou com a
própria importância. Quantos andam por aí com seus carrões e nariz empinado
olhando acima da cabeça dos demais como se fosse ver o disco-voador primeiro?
Os que fazem serviços humildes sabem o
que é ser olhado de cima, com desprezo e pouco caso. Ou nunca ser visto, não
tendo nome, e parecendo invisível. Aqueles que são usuários dos serviços dessas
pessoas costumam tratá-las com desdém, ou no mínimo de forma impaciente, como
se elas fossem incapazes de entender. E até podem ter dificuldade em vista de
ter tido, em sua maioria, pouca oportunidade, ou ainda, se a teve não conseguiu
aproveitá-la. Não vou fingir demagogia dizendo que mentalmente nunca discrimino
nada ou ninguém. É claro que isso seria uma deslavada mentira. Confesso: sou
impaciente com a burrice, embora cometa as minhas e espere que os outros sejam
tolerantes comigo. Feio isso, não é?
Saber alguma coisa dá status, ser e ter
alguma coisa dá status, o que gera respeito, mas na nossa sociedade, que muitas
vezes mostra-se podre, há valores que valem como moeda, por exemplo, estar
casado. Há pessoas que se arrastam em casamentos infelizes com medo do que os
outros vão pensar caso se separe. E posam sorridentes e hipócritas junto aos
familiares comemorando várias décadas de uma situação falsa. Mas aí entra a
religião. Respeito todas elas, ainda que ache alguns dogmas absurdos.
Relacionamentos se mantêm numa mentira por medo de julgamentos e subseqüente
desrespeito.
Está na moda dizer que se respeita a
natureza. Quanta inocência! Produzimos lixo interminavelmente. Ainda
ontem, ao invés de consertar meu celular de mais de cinco anos, o descartei e
comprei outro. Isto é não ter respeito. A Terra virou um monturo de lixo, e
logo não teremos mais espaço para os mais de 7 bilhões de sobreviventes. Como
manter adequadamente essa multidão de gente? O lixo tecnológico foi vomitado
por todos os lados. A ordem deveria ser reciclar, reaproveitar, consertar,
reutilizar. Mas o que vemos são novidades a cada instante, insufladas pela
publicidade que quase nos obriga a comprar. Isso é progresso que faz crescer a
Economia. Minha televisão – aparelho televisor - de 29 polegadas tem
um imenso tubo, 16 anos e funciona bem. Num raio de quilômetros não deve haver
similar. Até lancei esse desafio no Facebook. Apareceu um concorrente, mas que
não me venceu.
Os animais? Quando estão servindo são
respeitados, quando não, deletam-se. Quanta violência comprar um cãozinho e
vendo-o incomodar, jogá-lo fora nas mãos de qualquer um. Como disse Rogério
Magri, então ministro de Fernando Collor, “os cães são seres humanos”. E não
são? Sem contar os torturados bichinhos criados para comer. Quanto à água, além
de emporcalharmos as imediações das nascentes, ainda deixamos aberta a torneira
durante seu uso. Enxovalhamos e assoreamos os rios, sangramos o Rio São
Francisco. Lástima. Até parece que nos esquecemos que água em pó não existe.
Será que nos respeitamos? Cuidamos de nós,
da nossa saúde, física e mental? Até que ponto estamos presos à opinião alheia,
com medo de pensar por nós mesmos e seguirmos a nossa cartilha pessoal? Vivendo
em sociedade, é preciso seguir normas e regras, cumprir leis, mas há cuidados
que precisam ser individualizados. Quem está próximo merece carinho e atenção.
Mas, como o mundo bate em todos, o mais frequente é que as pessoas das quais
gostamos encontrem em nós, não um consolo, mas sinais de irritação. É preciso
amar a nós e aos que estão em nosso redor. Óbvio e esquecido.
Gente, de um modo geral, anda com as
unhas afiadas, xingando todo mundo, sendo agressiva sem motivo. Responde
rasgando. Apanhou ali, bate aqui e a má-vontade se espalha
como rastilho de pólvora. Assim, arruma o ambiente com espinhos e na hora de se
sentar, vai acontecer o quê? Ter cabelo nas ventas, não ter sangue de barata,
revidar, responder com violência, não levar desaforo para casa, berrar mais
alto, “olho por olho, dente por dente” são valentias que enchem a vida de
amargor. O sabor doce mora ao lado. Exercitar o respeito faz bem.
*Médica
endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de
Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora
do livro “Segurando a Hiperatividade”
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