Responsabilidade
desnecessária
* Por Pedro J. Bondaczuk
Os conselhos, quando dão certo e
as pessoas que os pediram fazem tudo direitinho, conforme lhes foi aconselhado,
beneficiam, apenas, os que os recebem. O aconselhador, por sua vez, corre todos
riscos imagináveis, sem que leve qualquer vantagem nisso. Há quem tenha a mania
de aconselhar a torto e a direito, a todo o mundo, conhecidos ou desconhecidos,
sem serem sequer solicitados. Tornam-se chatos, pedantes, dogmáticos e quem
pode os evita.
Claro que podem estar bem
intencionados (geralmente estão), não há porque se duvidar. Mas de indivíduos
com boas intenções “o inferno está lotadinho”, como bem diz o povão, em sua
espontânea, posto que rude, sabedoria.
Há quem diga que se conselho
fosse bom, as pessoas os venderiam, não dariam de graça. Não é bem assim. Há
momentos na vida em que carecemos de uma pessoa sensata, experiente, ponderada
e que nos queira bem, que nos oriente em relação a determinados problemas. Como
em qualquer jogo, via de regra, quem está de fora enxerga melhor. Detecta onde
estão as dificuldades e se dispõe a apontar os caminhos mais adequados para
sairmos de algumas enrascadas. Isto, claro, se elas tiverem saída. Às vezes não
têm.
Mesmo nessas circunstâncias,
porém – e supondo que quem aconselha esteja plenamente habilitado a aconselhar
– o aconselhador (ou conselheiro, como queiram) sempre corre riscos. Por
exemplo, quem lhe pediu orientação pode não seguir rigorosamente o que foi
aconselhado a fazer e se dar mal. Ou seja, pode complicar ainda mais
determinada situação já complicada. O que você acha que ele fará? Assumirá o
erro e arcará com as conseqüências? Raramente.
A probabilidade maior é que lance
toda a culpa do fracasso naquele que, prestamente, se dispôs a acudi-lo em suas
dificuldades. Pode, inclusive, não apenas hostilizar o nobre conselheiro, como
fazer algo muito pior, dependendo da sua índole.
E se o conselho der certo?
Manifestará gratidão e se tornará mais íntimo de quem o aconselhou?
Dificilmente. A experiência indica que assumirá todos os méritos por haver
saído da enrascada que o afligia e, provavelmente, esfriará suas relações com
quem o aconselhou, se não rompê-la de vez, o que é mais comum.
Que vantagem, pois, nós temos em
aconselhar alguém, mesmo que se trate da esposa, do filho, do neto, do amigo ou
de outra pessoa qualquer que prive da nossa irrestrita confiança e, sobretudo,
intimidade? Nenhuma! Rigorosamente nenhuma!
Talvez (e nem sempre) lhe reste a
satisfação íntima de haver feito uma boa ação para alguém. Na maioria dos
casos, nem isso lhe sobra. Vale a pena, pois, correr tantos riscos por
recompensa tão pífia (e quando ela existe)? Sinceramente, entendo que não!
Claro que não sou a pessoa mais
habilitada a tratar dessa questão. Já recebi muitos conselhos (alguns excelentes,
outros nem tanto), solicitados ou dados de graça e, em contrapartida,
aconselhei muita gente.
Não hostilizei, porém, e nem
rompi relações com nenhum dos meus conselheiros, embora muitos o merecessem.
Algumas dessas pseudo-orientações (nunca pedidas, por sinal) foram tão
ostensivamente ruins, que as levei na pura brincadeira. Mas também não me
lancei aos pés dos que me aconselharam bem e nem lhes jurei devotar eterna
gratidão.
Quanto aos conselhos que dei?
Bem, arrependo-me profundamente de haver agido assim, principalmente quando as
coisas deram certo. Perdi amigos, que considerava como irmãos, apenas por lhes
haver apontado caminhos óbvios, que os levaram ao sucesso em muitas das suas
empreitadas. Bem feito! O que eu tinha que me meter na vida alheia.
Hoje, busco sozinho as saídas
para as minhas dificuldades, valendo-me da experiência que os meus já muitos
anos de vida me deram. Às vezes, complico, é verdade, situações muito simples,
mas arco com as conseqüências. Na maioria das vezes, porém, tenho acertado (ou
quase, sei lá).
Concordo plenamente com o que
Albert Einstein escreveu em um de seus textos a esse propósito: “Não me agrada
aconselhar porque, em todos os casos, se trata de uma responsabilidade
desnecessária”. E não é?! Pra quê procurar chifre em cabeça de cavalo ou
arrumar sarna pra me coçar?! Sim, pra quê?!!!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio
Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor
do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico
de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos
livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos),
além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Eu não fico triste e nem arrependida de ver o sucesso de alguém que me pediu conselho e se deu bem. Não entendi esse seu pensamento. O conselho vem junto ao julgamento da situação com condenação em algumas vezes. A análise do fato ou situação vem com juízo de valor e até uma certa alegria em ver o outro em apuros. Estamos sempre julgando e opinando. Ao médico, não pedem claramente opinião, mas quando contam uma história estão, indiretamente, abrindo espaço para uma sugestão, pelo menos. Na verdade, a pessoa que conta e quer opinião/conselho/sugestão já tem sua decisão tomada e dificilmente irá mudá-la. Conta apenas para desabafar. Algumas vezes sentimos mudar o momento da pessoa com alguma palavra de conforto ou no apontamento de um caminho. Todos já sentimos isso. É o que faz o Centro da Valorização da Vida.
ResponderExcluir