No tempo dos simulacros
* Por
Clóvis Campêlo
Mais de quarenta anos
depois do fim do grupo, os Beatles ainda influenciam, de forma direta e
indireta, artistas e consumidores no mundo inteiro.
Uma das provas dessa
afirmativa é a existência dos numerosos grupos de imitadores da banda. Na
cidade de Liverpool, na Inglaterra, seu lugar de origem, existe um encontro
anual onde conjuntos do todo o mundo se apresentam para um público não só
repleto de saudosistas, como também de novos e jovens admiradores. No mundo pós-moderno
de hoje, a imitação pode ser um bom negócio.
Vivemos, aliás, o
tempos dos simulacros. Superado o ideal da originalidade, implantado pelos
sonhadores românticos de antanho, a cópia, desde que de boa qualidade, não deve
mais ser reprimida. Pelo contrário, pode ser um bom e rentável negócio. Talvez
não se trate mais da mimesis, onde o aprendiz de artista imitava o mestre até a
exaustão e superação. Mas, simplesmente de reproduzir com fidelidade uma obra
original e de grande aceitação pelo público consumidor. Existe um bom mercado
para isso. Que os digam os artistas plásticos chineses que copiam com extrema
perfeição e qualidade qualquer pintor ocidental de talento reconhecido. Que o
digam também as dezenas de grupos musicais que imitaram e imitam os Beatles, ou
as pessoas que imitaram e imitam o inesquecível Elvis, the pelvis.
Aliás, na modernidade
dos anos 60, foi a originalidade do fabuloso quarteto inglês que o elevou à
condição de superestrela do mundo pop. Desde essa época que proliferaram as imitações.
Quem não lembra, por exemplo, que o som de Renato e Seus Blues Caps,
intérpretes e tradutores brasileiros dos Beatles, durante um bom tempo,
alimentou a musicalidade de várias gerações de jovens brasileiros? Posso
afirmar até que aqui em Pindorama os boinas azuis cariocas eram mais cantados
do que o original britânico. Coisas dessa deliciosa sociedade de consumo em que
vivemos.
Hoje, findo o grupo
inglês e impossibilitada a sua volta, haja vista as mortes de Lennon e
Harrison, nada mais justo do que tê-los novamente através dos seus imitadores.
Além do mais, as
novidades e transformações da arte não surgem a partir do nada. Elas nada mais
são do que a condensação de novos a latentes anseios coletivos. A genialidade
que não conseguir incorporar isso, passará despercebida como uma atitude
demasiadamente adiantada para o seu tempo e que só será interpretada e
decodificada a posteriori. São muitos os exemplos pertinentes a esse tipo de
situação, seja na música, na literatura ou nas artes plásticas e artes em
geral.
A genialidade pede
sintonia e o artista protagonista nada mais será do que o instrumento dessa
mudança. Nem sempre terá plena consciência do papel que cumpre e da sua
importância nesse cenário de mudança.
* Poeta,
jornalista e radialista, blogs:
http://aimagemcongelada.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário