Por uma dieta rica em fibras
* Por
Luiz Eduardo Caminha
Nos anos 1970, as
pesquisa do cirurgião irlandês Denis P. Burkitt assombraram o mundo e mudaram
radicalmente a cultura ocidental quanto às dietas na prevenção de doenças,
notadamente o câncer. Médico missionário em Uganda, África, desde o final da
2ª. Guerra, o cientista, entre inúmeras contribuições para a Medicina, como a
descoberta do Linfoma de Burkitt, estudou a presença de câncer do intestino
grosso (cólon e reto) em descendentes africanos que migraram para a Europa.
Embora parte de suas
hipóteses sobre dietas ricas em fibras como fator de prevenção do câncer tenha
sido contestada por alguns cientistas, o mais notável de seu trabalho foi
demonstrar que o câncer colorretal, antes inexistente nas tribos estudadas,
alcançava o mesmo percentual dos europeus a partir da terceira geração de
descendentes destas mesmas tribos vindos para a Europa. Isto era algo
surpreendente.
Burkitt notou que a
base da dieta dos remanescentes em África era a caça, a pesca, as frutas e
raízes ou tubérculos. Mais natural impossível. A ingestão de fibras era de tal
ordem que o bolo fecal destes aborígines chegava a espantosos 1,5 Kg contra 150
a 300 gramas dos europeus. Paralelamente, era notória a baixa incidência deste
câncer nas populações do extremo oriente, habituadas a uma dieta rica em fibras
e muito próxima do natural ou orgânico. Aí estava uma boa hipótese: “Porque
comiam grande quantidade de fibras naturais não tinham câncer colorretal”. Foi
um verdadeiro “boom”. O fato é que, sabe-se hoje, a dieta pobre em fibras
aumenta em quase 20% as chances de um indivíduo vir a ter câncer colorretal,
mas não é verdade que a dieta rica em fibras elimine sua existência. Ou seja,
comer fibras diminui, mas não elimina a possibilidade de um câncer de intestino
grosso.
Ao fazermos, hoje, uma
releitura de Burkitt, desperta-nos uma inquietante questão. A partir de 1940
começou o uso dos organofosforados, um perigoso agrotóxico. O mundo sofreu
grande explosão demográfica a partir de 1950. O aumento da demanda por
alimentos levou ao incremento do uso de agrotóxicos. A partir daí os dados se
misturam. A curva de incidência de câncer do sistema digestivo – e de outros
tipos – acompanha, como irmã siamesa, a curva do uso indiscriminado de
agrotóxicos no mundo. Os africanos de Burkitt saíram de um lugar de agrotóxico
zero para outro onde o uso era de larga escala. E a coisa aumentou década após
década.
Estamos comendo veneno
e uma ou outra comidinha cancerígena? Sinceramente, não sei. Mas, por via das
dúvidas prefiro me precaver. Uma hortinha em casa é saudável e acompanhar o
crescimento surpreendente dos vegetais ajuda a relaxar. Não bastasse isto,
mexer com a terra descarrega a nociva energia estática que acumulamos durante o
dia. Mas isto é papo pra outra ocasião. A par do câncer colorretal, dietas
ricas em fibras são incontestavelmente um item a considerar na prevenção de
doenças cardíacas, gastrointestinais, diabetes e outras. De qualquer forma,
procurar alimentos com boa procedência e, se possível, ricos em fibras, é uma
regra inquestionável nos dias de hoje. Ou estou delirando?
* Médico
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