Infinito e eternidade
O infinito e a eternidade são dois conceitos muito citados, mas não
compreendidos por ninguém. Não há como compreendê-los. Um, refere-se ao espaço,
tão extenso que não teria início e nem fim. Você consegue entender, mas
entender mesmo algo assim? Claro que não, ora, ora. Já a eternidade tem a ver
com tempo. Como o infinito, nunca começou e jamais terminará. Como conceitos
desse porte podem caber em mentes limitadíssimas, como as nossas, de dimensões ínfimas
e, sobretudo, perecíveis? Não cabem. Sempre que quero exercitar o cérebro à
exaustão, antes de empreender algum novo projeto literário, medito nisso. Não
chego a nenhuma conclusão, claro. Mas considero essa atividade insuperável
exercício mental.
Andei comparando as opiniões de alguns gênios a esse propósito;
Fernando Pessoa, por exemplo, aposta em nossa impossibilidade de entender esses
conceitos. Concordo com ele. O notável escritor dos heterônimos escreveu: “Se o
nosso espírito pudesse compreender a eternidade, ou o infinito, saberíamos
tudo. Até podermos entender esse fato, não podemos saber nada”. Os cientistas,
todavia, acham que entendem os dois conceitos. E negam a existência de ambos. “Determinam”,
por exemplo, os limites do universo, que volta e meia são forçados a revisar,
sempre que os telescópios alcançam mais longe. Não faz muito, afirmavam que o
ponto final dessa imensidão absurda situava-se a oito bilhões de anos-luz.
Atualmente, estenderam-no a por volta de treze bilhões de anos-luz. Tolice.
Admitam que isso não passa de mero “chute”, ora bolas.
O pitoresco é que, quando você questiona essa delimitação, é olhado com
menosprezo, como se fosse o suprassumo da ignorância. Esses cientistas recorrem
a complexos cálculos matemáticos, portanto lógicos, para fundamentarem suas conclusões.
Mas quem garante que a lógica rege o universo? Ou, pelo menos, que se trata desta
“lógica” humana, e não de outra, infinitamente mais complexa e misteriosa?
Assim como a noção de infinito, cuja existência os cientistas negam, também a
eternidade é negada. Parece-lhes absurda. E para rebater o que lhes parece sem
sentido, recorrem a outro absurdo ainda maior, o tal do “Big Bang”.
Afirmam, com a convicção de quem tivesse testemunhado todo o processo,
que tudo o que compõe o universo – galáxias, estrelas, planetas, cometas,
meteoros etc,etc,etc – estava tão comprimido que sua dimensão era equivalente a
uma ínfima cabeça de alfinete ou algo menor. A pressão de tamanha compressão
era, no seu entender, absurda de tão elevada. Era tanta, que “explodiu”
espetacularmente, dando origem a tudo o que existe. Minha mente cartesiana
teima em não aceitar essa teoria, que atualmente atinge foros de “verdade”.
Ora, ora, ora.
Algumas coisas os adeptos dessa “explicação” das origens de tudo o que
há, nunca conseguiram (e duvido que consigam) explicar. Por exemplo, onde
estava essa matéria sumamente concentrada e comprimida antes do dito “Big Bang”?
Estava, afinal, em algum lugar, em algum espaço. E quando esse aglomerado tão
comprimido começou a se formar? E antes da sua formação, o que havia? Não, eles
não explicam coisíssima alguma com sua teoria. Somente complicam as coisas já
tão complicadas por si sós. Sobre a impossibilidade de entendimento do conceito
de infinito, o escritor português, Almeida Garrett, tem uma teoria que até faz
sentido. Escreveu: “A culpa é talvez da palavra, que é abstrata demais. Saúde,
riqueza, miséria, pobreza e ainda
coisas mais materiais, como o frio e o calor, não são senão estados
comparativos, aproximativos. Ao infinito não se chega, porque deixava de o ser
em se chegando a ele”. Querem coisa mais lógica?
José Saramago, por seu turno, nega a eternidade. Raciocina,
claro, em termos humanos, cuja vida tem fim e não raro até precocemente.
Racionalmente, não conseguimos conceber algo ou alguém que nunca teve início e
jamais terminará. “Como?!”, perguntamos perplexos, mas com uma infinidade de
exclamações, quando pensamos a respeito. Sim, como?!!!! Saramago escreveu: "A
eternidade não existe. Um dia o planeta desaparecerá e o Universo não saberá
que nós existimos". Bem, saber, saber, não saberá mesmo. Mas a
eternidade que não existe é a humana. Outras... Não ponho a mão no fogo.
Albert Einstein, cuja Teoria da Relatividade revolucionou as
ciências, acreditava em infinito. E, para ele, duas coisas tinham essa
característica: o universo e a estupidez humana. Claro que esta última se
tratava de metáfora do genial, e também bem-humorado cientista. Para reforçar o
efeito de sua observação, Einstein aduziu: “Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a
certeza absoluta”. Ou seja, deu a entender que certo, mas certo
mesmo, estava somente de que a estupidez humana era infinita. Não sei se ela
não tem fim (provavelmente terá, se ou quando a espécie humana se extinguir),
mas que é ostensiva e que incomoda demais, disso não há como duvidar. Voltarei
oportunamente ao tema.
Boa leitura.
O Editor
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Um ótimo tema para quem gosta de pensar. Eu, ingênua, engoli o Big Bang direitinho, sem fazer nenhuma perguntinha. Deve ser fruto da minha estupidez.
ResponderExcluirNunca acreditei no Big Bang. Creio que a matéria é integrada e desintegrada, sempre de forma diferente e contínua. Daí a crença na eternidade, mesmo para humanos.
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