Nem
tudo está perdido
* Por Rodrigo
Ramazzini
Na balada.
Quando começou a tocar uma música do Jorge e Mateus, Danilo entendeu que era a
hora de se aproximar da morena de cabelos longos, unhas pintadas de roxo, saia
e blusa preta, que estava escorada na copa.
- Oi!
- Oi...
- Eu estava
ali te olhando e pensei...
- Deixa-me
adivinhar. Pensou: vou ali xavecar aquela mulher para ver se arrumo uma para
hoje. É isso?
- Não! Não...
Não é isso...
- Então: que
vontade de beijar aquela mulher. Vou ali tentar enrolar ela com um xaveco furado.
Isso?
- Não...
Não... É que...
- Foi além? Ô,
cabecinha rápida e safadinha, hein?
- Não! Não!
- Já queres me
levar para a cama no primeiro encontro?
- Olha... Eu acho
que tu estás confundindo as coisas?
- Confundindo?
Nããããão! É isso que todos vocês homens fazem quando se aproximam da gente em
festas. Não é?
- Eu sou
diferente...
- Todos dizem
que são diferentes. Mas a bem da verdade, são todos iguais. Chegam perto da
gente, jogam uma conversa furada, como se isso fosse mudar a nossa concepção e
decisão. Saiba que, nós mulheres é que escolhemos vocês. Quando a gente
visualiza um homem, o veredito forma-se quase que instantaneamente...
- Interessante
este ponto de vista feminino. Nunca tinha me dado conta disso...
- Estou
dizendo... Vocês homens... Não tem recuperação!
- Minha
intuição não falha...
- Como assim?
- Eu olhei pra
ti e pensei: aquela mulher ali tem cara de ser muito inteligente e saber de
tudo sobre o gênero feminino... Além, claro, de ser linda!
- O que tem
isso? Depois de tudo que te falei tu achas que vou cair nesse papinho furado?
- Não! Não!
- Então, o que
é?
- Estás vendo
aquela loira ali? Bonitona de saia curtinha?
- Sei... O que
tem?
- Tu podias intermediar
o meu contato com ela, né?
- Ah tá! Estás
me achando com cara de cupido agora?
- Sabe como
é... Quando outra mulher faz essa intermediação... Enche o cara de adjetivos e
tal... A coisa rola mais fácil, não?
- Digamos que
ajuda...
- Então, vai
dizer que não gostaste de mim, hein? Não vais estar nem mentindo...
- É... Tu não és
de jogar fora mesmo... Bonitinho, arrumadinho, cheiroso...
- Agrado
geral, não?
- É...
- Faz essa
mão?
- Mas eu não
sei nem o teu nome. Qual é?
- Ô! Que
indelicadeza a minha. Não me apresentei: Rômulo, prazer!
- Sabrina...
- Encantado...
E então, Sabrina?
- Tens certeza
que tu queres aquela loira? Porque pelo amor de Deus! Ela é bem gordinha e
cheia de celulites. Dá para ver daqui...
- É...
- E a cara...
Parece um cavalo! Há! Há! Há!
- Há! Há! Há!
Não fala assim...
-
Sinceramente, eu acho que tu arrumas coisa melhor esta noite...
- Será?
- Eu acho...
- Posso ficar
aqui conversando contigo até achar?
- Pode...
No outro dia
pela manhã.
Sabrina
acordou e encontrou um bilhete de Rômulo, no lugar em que ocupara na cama, com
os dizeres: “Obrigado pela noite. Foi maravilhosa! Tinha um compromisso cedo.
Te ligo às 17h. Beijo, Rômulo”. Ao ler, Sabrina colocou a mão na cabeça e falou
para si mesma:
- Eu não
acredito que caí mais uma vez! Como eu sou burra, meu Deus! Tudo por causa de
um ciúme bobo de uma loira que eu nem conheço. Como eu sou idiota! Idiota!
Nunca que ele vai ligar...
E,
surpreendentemente, às 17h00mim, o telefone tocou. Era Rômulo. Marcaram um
jantar para o dia seguinte. Assim que encerrou a ligação, Sabrina pensou:
- Nem tudo
está perdido!
E abriu um
largo sorriso...
* Jornalista
e contista gaúcho
Quando o roteiro está manjadíssimo, vem o destino e muda alguma coisa. Então fica interessante pela surpresa. Você entende bem de relacionamentos homem-mulher. Que coisa!
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