O que será?
* Por Daniel Santos
Pigmento,
mínimo rubi. Mas está só no começo o rubor que
ninguém sabe se vergonha ou majestade.
A
cada orvalho, mais se encorpa e se apruma essa mancha que poderá ser a primeira
menarca de uma ninfa ou a voluta lasciva de uma espanhola. Porque tudo é
mistério ainda.
Um
silêncio de nervosa expectativa circula pelo jardim. A corola ainda não se
abriu desavergonhada nem as mãos da cobiça tentam alcançar o que, em breve, se
empertigará em nome da Beleza e exigirá súditos.
E,
agora, um coágulo, o mosto, a mórula. Parece carne, mas não é. Parece o rubro
vestígio de um açoite, mas não é. E ninguém acredite, caso disserem “é o
açafrão com o qual se empoam os flamingos!”.
O
carmim fixa-se em definitivo, e pétalas de irresistível radar atraem a corte de
besouros e zangões. Sabe-se, agora. O que era apenas rubor ganha a ressonância
de um escândalo: a rosa está pronta e acabada. E vigora.
* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e
redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de
São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou
"A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e
"Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o
romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para
obras em fase de conclusão, em 2001.
Um aborto poetizado?
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