Clima e comportamento
“O clima influencia,
para melhor ou para pior, o comportamento humano?” Essa foi a questão colocada
pelo leitor Josué Xavier, num gentil e extenso e-mail que me enviou, motivado,
principalmente, pelo inusitado calor, acompanhado de falta de chuvas e por
poderosa massa de ar seco que afetam várias áreas do País neste verão atípico,
sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. A resposta, seca (como está o ar) e
direta, é: “Sim”. Afeta e muito. E não apenas a nós, humanos, mas a todos os
seres vivos, animais e vegetais.
Observo que não sou
especialista na matéria, mas mero “curioso” no assunto. Tenho em mãos, todavia,
algumas pesquisas de experts, sobretudo de antropólogos, psicólogos e
cientistas do comportamento (etólogos), que me credenciam a responder
afirmativamente a pergunta do leitor. Ademais, escrevi, tempos atrás, longo
texto a propósito, intitulado “Seres meteorológicos”, relatando não apenas as
conclusões dos doutores na matéria, mas, principalmente, minha experiência
pessoal. Naquela oportunidade, o “gancho” foi o excesso de chuvas. Agora, é a
ausência delas.
É até questão de lógica
essa influência climática no comportamento, levando em conta que variações de
temperatura, pressão e umidade do ar, muito bruscas, principalmente as mais
severas, como as que ocorrem atualmente, interferem no funcionamento do nosso
organismo. No caso do calor, por exemplo, nosso mecanismo de regulação térmica
entra em ação, para impedir que a temperatura corporal ultrapasse os 36,5 graus
centígrados, considerada normal na maioria das pessoas, com variações de meio a
um grau de um indivíduo para outro. O apetite, no caso, diminui e o dispêndio
de energia aumenta, causando aquela sensação desagradável de “moleza” no corpo
em virtude do desequilíbrio. O sono, por sua vez, fica longe de ser tranqüilo,
o que interfere nos reflexos.
Quem é escritor, por
exemplo, sabe, por experiência própria, como é difícil se concentrar para
redigir um texto claro, correto e criativo nos dias de extremos climáticos, ou
seja, tanto de frio excessivo, quanto de calor causticante. No meu caso – e gosto
de citar experiências pessoais, não por me considerar “melhor” ou “pior” do que
os outros, mas por se tratar de algo que posso relatar com segurança, por ter
vivido ou estar vivendo a situação – tenho um decréscimo sensível na qualidade
do que escrevo. E esses extremos só não afetam a quantidade dos meus textos,
porquanto tenho extensa pauta diária a cumprir e não costumo, a menos que premido
por força maior, deixar ninguém na mão. O que assumo, cumpro, mesmo que a
produção não saia rigorosamente como desejava.
Quem me acompanha
assiduamente nos vários espaços da internet em que divulgo meus escritos,
certamente já notou certo decréscimo qualitativo na redação, na exposição de idéias,
que só não é pior, dado o imenso esforço que tenho que fazer para manter
razoavelmente equilibradas a quantidade e a qualidade. A despeito do ventilador
ligado o dia todo, bem sobre minha cabeça, para atenuar um pouco que seja o calor, a concentração fica
bastante comprometida. Pudera! Uma noite de sono mal dormida e o metabolismo
trabalhando a todo o vapor para impedir que a temperatura externa afete a
interna cobram seu preço. E este não é nada barato.
Psicologicamente,
porém, não sinto grandes diferenças. Talvez isso se deva ao hábito que cultivo
há anos de conservar o bom-humor, sejam quais forem as circunstâncias. Mas não
é o que observo ao meu redor. O que vejo, em casa e nos lugares que freqüento,
são pessoas irritadas, nervosas, exasperadas e impacientes, “à beira de um
ataque de nervos”, tornando-se ásperas, quando não briguentas, por dá cá toma
lá. Não por acaso as estatísticas mundiais comprovam que em épocas de ondas de
calor selvagens, como a atual, a porcentagem de homicídios cresce bastante, não
raro ao dobro de períodos normais.
A propósito do tema da
influência do clima sobre nosso humor e raciocínio (pelo menos sobre o meu),
fiz breve (mas meticulosa) análise sobre meus arquivos de textos literários e
pude constatar que minha produção, em todos os anos, baixa sensivelmente, tanto
em quantidade quanto em qualidade, no verão e, sobretudo, no inverno. Em
contrapartida, cresce exponencialmente na primavera para “explodir”, em todos
os aspectos, no outono. E esta é a estação mais amena, quase a ideal, pelo menos
na região em que moro, ou seja, na desta metrópole interiorana que é Campinas.
Seria apenas coincidência? Não creio!
Neste verão causticante,
com tantas notícias ruins (e todos os anos é a mesma coisa, variando, apenas,
em intensidade e no número de mortos), sou levado a fazer um esforço mental
imenso para redigir um reles texto, como este. E, mesmo exibindo-o
publicamente, neste oceano de informações que é a internet, desconfio se tratar
de considerações pífias, cheias de falhas e contradições, que não condizem com
o prestígio que conquistei. É nesta época que minha autoconfiança se evapora e
resta a angústia de não escrever como gostaria e como sei fazer. Vários colegas
já me confessaram que, nesta época, se sentem assim também. Muitos, é verdade,
negaram que haja essa influência climática em sua produção. Pudera! Não
produzem nada! Se escreveram dez textos em suas vidas foi muito. Enfim...
Para encerrar estas
considerações, atendendo ao pedido do leitor Josué Xavier, cito, mais uma vez,
um dos meus poetas prediletos, Mauro Sampaio, a exemplo do que fiz no texto que
mencionei no início destas reflexões. Meu saudoso e insubstituível amigo compôs
excelente poema em que destaca de quem seria a culpa do atual desequilíbrio
climático, causador de tragédias e de desconforto generalizado. Seu título? “O
homem”, e diz:
“Quando
toda a terra, de todos os continentes
for
uma terra só, desolada e triste,
nessa
tristeza e desolação única
estará
estampada a certeza
de
que por ela passou o homem!”.
E já estamos quase chegando
lá, infelizmente. Espero ter satisfeito a curiosidade do gentil leitor, Josué
Xavier. Caso não tenha conseguido êxito, peço-lhe que volte a me escrever. Suas
mensagens serão sempre bem vindas. Se o fizer, prometo ser mais objetivo e
trazer à baila algumas pesquisas que tenho em mãos e que comprovam como o clima
afeta o comportamento humano.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Pode não ser a coisa mais brilhante que já escreveu, Pedro, e sei que, embora seja um pouco vaidoso, não fala de oscilação de qualidade para ganhar elogio, mas, pelo menos em mim, o efeito do editorial foi ótimo. Até coloquei no Facebook sua finalização. Obrigada.
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