O cheiro do amor
* Por
Gustavo do Carmo
Era a primeira vez dele.
Enfim iria perder a virgindade. Estava em casa com a primeira namorada. Ou a
primeira mulher que conseguiu levar para cama. Não sabia se o relacionamento
iria continuar a partir dali.
Cansou-se dos homens.
Tinha acabado de terminar um namoro de dez anos com um empresário rico com a
internet. Estava quase marcando o casamento com ele. Um “mauricinho babaca”,
segundo ela, que ficou arrasada quando descobriu que foi traída. Este já era o
seu terceiro namorado. Antes, ficou
cinco anos com um surfista na adolescência e foi a “outra”, durante dois anos,
de um vereador que tinha idade para ser o seu avô.
Já tinha passado dos
40, quase chegando aos 50. Os pais, com quem ainda morava, não ficariam contra
o namoro, pelo contrário. Queriam muito que o filho desencalhasse. Mas levou a moça,
que beirava os 30, para casa antes de apresentá-la a eles. O pai tinha viajado
e a mãe passando uma semana na casa da outra filha, irmã dele.
Natalie sabia que Raul
era tímido e já no ponto crítico da imaturidade. Mas juntou a decepção com os
três namorados anteriores com o sentimento de amizade que tinha por ele.
Arriscou e cedeu aos seus encantos. Embora imaturo e por vezes bobo, Raul era
um homem de caráter. Delicado, não romântico. Respeitava as mulheres, o que
Natalie sempre admirava. Era honesto e sincero, mas às vezes, exagerava na
sinceridade.
Ambos tinham traços
físicos que agradavam mutuamente. Natalie, pele clara, cabelos pretos, seios
grandes e magrinha. Raul, moreno mais bronzeado, sem ser mulato, e cabelos
pretos lisos. Já estava bem fora de forma, mas ainda não podia ser considerado
gordo. Ela gostava de um gordinho.
Eles começaram a despir
um ao outro. Pareciam apressados. Beijavam-se ardentemente. Tudo estava indo
bem. Até que um cheiro estranho invadiu o quarto do rapaz logo que tiraram os
respectivos sapatos. Um cheiro de queijo forte. Não havia dúvidas: era um
chulé.
Passaram a trocar acusações mútuas. O clima
romântico já quebrado. Uma discussão de casal em crise tomou conta do quarto.
Quase chegou aos vizinhos.
— Meus três namorados
anteriores eram canalhas, mas não eram porcos.
— Então arrume outro
mais limpinho. Se é que os outros não achavam você fedida!
— Fedido é você!
— É você!
Começaram a rir e
voltaram a se beijar ardentemente. Foram tomar banho juntos. A noite que quase
foi estragada foi salva como se alguém tivesse borrifado um desodorante de
lavanda.
Assumiram o namoro.
Casaram-se. Tiveram dois filhos. Enriqueceram juntos com uma casa de festas. Dez
anos depois, Natalie se separou de Raul, o chamando de mimado fedido, mesmo com
o mau cheiro vindo sempre dela.
* Jornalista e publicitário de formação e escritor
de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São
Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora Multifoco/Selo
Redondezas - RJ. Seu blog, “Tudo
cultural” - www.tudocultural.blogspot.com é bastante freqüentado por
leitores
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