Um conto chinês
* Por
Eduardo Oliveira Freire
A história me emocionou por mostrar como a vida é repleta de fatos
inesperados ou absurdos. No início, a cena de uma vaca que caiu do céu, matando
a noiva do chinês, foi surreal para mim. Mas ao decorrer do filme percebi que o
fato não foi tão improvável.
Depois da cena inicial, o enredo mostra a vida solitária de um argentino
de meia idade. Ele vivia colecionando notícias absurdas e tem uma loja de
ferragem. Não se relacionava bem com as pessoas, vivendo metodicamente seu
cotidiano. Um dia, encontrou, por acaso, um chinês que não dizia uma palavra de
espanhol. A partir daí, com esse encontro inesperado, começou a enxergar os
acontecimentos de outro jeito. O filme é cativante por evidenciar que mesmo com
a diferença cultural e do idioma, há sentimentos universais que podem levar a
uma comunicação mais abrangente.
Outro ponto que gostaria de abordar relaciona-se com a leveza com
que o filme tratou o absurdo. Antes de a película começar, apareceu uma legenda
a dizer que a história era baseada em fatos reais. Realmente, quantos casos
inusitados que aparecem e achamos serem inventados, mas não são. A vida e a
realidade não são perfeitas.
O personagem argentino não convivia bem com as pessoas, porque
desacreditava na sociedade. Achava todos uns “pulhas”. Isso aconteceu devido ao
seu passado. Perdeu os pais muito cedo e participou da Guerra das Ilhas das
Malvinas, que a partir do olhar do personagem foi absurda. Recordei-me de O
Mito De Sísifo (Albert Camus). O homem absurdo tem consciência que a vida não é
"certinha", diferente do homem cotidiano. Também, para o homem
absurdo, já não se trata de explicar e resolver, mas de experimentar e
descrever. Tudo começa pela indiferença lúcida. Ele quer viver o absurdo da
vida sem perder tempo de ficar explicando e criando teorias.
O filme nos mostra que apesar das adversidades da vida, há espaço para
os bons sentimentos universais e inerentes ao ser humano e mesmo parecendo
absurdos, deixe fluir. Quem sabe pode se tornar alguém melhor.
* Formado em Ciências Sociais, especialização
em Jornalismo cultural e aspirante a escritor
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