Eu amo meus médicos
* Por Mara Narciso
Não chego a sonhar com eles ou desejar
vê-los antes do dia combinado, mas, dentro do meu estilo fiel, fico anos com o
mesmo médico. Não havendo empatia, não volto, mas, dando certo, vão ter que me
engolir até que a morte nos separe. Assim eu sou. A começar pela minha mãe,
Dra. Milena Narciso, que foi minha ginecologista desde que se formou. Como saí
de dentro dela, era natural ser vista por ela. Quando inventou de morrer, desci
as escadas e fui me tratar com a sua colega do plantão da quarta-feira na
maternidade da Santa Casa, Dra Fátima Lacerda, que foi minha colega na
faculdade de medicina. E já são 11 anos de bom convívio. A cada ano cumpro o
ritual da prevenção ou apareço quando necessário.
Na psiquiatria, a Dra Consuelo Guedes
Meira toma conta dos meus sentimentos, psicanalizando-me há 12 anos. Parece ter
acabado de tomar banho, fazer escova e estrear roupa nova. Mantem essa imagem
por todos esses anos. Sua aparência ágil e esvoaçante anima o cliente. Falo
meia hora a cada 15 dias. Ela diz muito em poucas palavras. Ao final da sessão,
direciona o pensamento e marca nova conversa. Já o otorrinolaringologista é o
Dr. Marcos Borém. Meu filho pediu e ele me atendeu após o expediente. Simpático
e atencioso, cuida da labirintite há 30 anos.
Dra Rita Leite me admira e eu a admiro
também. Trata de mim há 12 anos, desde que tive um infarto. Foi a ela que
escolhi, depois de vê-la trabalhando na Santa Casa, na cardiologia e no CTI
durante dez anos. Dedicada e atualizada, nunca se cansa. Não atende pelo meu
convênio e não cobra de mim. O ruim é a sua agenda cheia e a dificuldade em
transpor a barreira imposta pelas secretárias que atendem até seu celular.
Pergunta ingênua de acompanhantes, especialmente aqueles que respondem questões
feitas ao paciente que pode responder, é cortada. Ficam aborrecidos, por que a
cardiologista é enérgica e não dá moleza. Foi quem me mandou fazer psicanálise.
Grande profissional.
Meu mastologista é Dr. Paulo de Tarso Salermo
Del Menezzi, ao qual visito a cada seis meses, há oito anos. Bonito e
sorridente, usa voz macia para acalmar as mulheres. Além do diagnóstico, que
pode derrubar, algumas precisam enfrentar a mutilação, a retirada da mama, que,
felizmente é seguida pela reconstituição, há algum tempo. Fazer mamografia não
é nada, momento em que, figurativamente, pode-se dizer que é preciso passar a
mama por debaixo da porta. O difícil é aguardar o veredicto. Também este colega
não me cobra. E que meus resultados não me assustem.
Também é preciso ir ao proctologista. A
minha é a Dra Samyra Lacerda David, cirurgiã geral, linda e de uma meiguice que
amolece qualquer coração. Foi de uma delicadeza tão grande comigo, que passou
em minha casa e me levou ao Hospital Aroldo Tourinho para me fazer um exame. E
também me trouxe de volta. Quem não se impressiona com gente assim? Já são
cinco anos de controle.
A dermatologista é a Dra. Andrea
Laughton. A dificuldade começa na hora de marcar. Agenda lotada, é preciso
telefonar muito tempo antes. Não cobra de mim, e tem uma capacidade
profissional acima da média. É dom, pois não acredito que seja coisa que se
possa desenvolver. Trabalha com parcimônia e grande responsabilidade em
intermináveis jornadas.
Para enxergar melhor visito o Hospital
de Olhos do Norte de Minas. Lá sou atendida pelo Dr. Werthman Vilela.
Conhecemo-nos quando ele chegou a Montes Claros especializado em oftalmologia e
retina diabética. Eu o levei a fazer palestras na Associação de Diabéticos do
Norte de Minas. O homem explodiu em capacidade de atuar e agradar, e brilha
dentro de um grande hospital de olhos. Lá é uma linha de montagem, com
técnicos, médicos e pacientes de crachá. A consulta seguida de exames é tão
completa que se fica horas por lá, passando pelos diversos aparelhos.
Simpático, o Dr. Vilela trabalha sorrindo, enquanto os pacientes escolhem suas
lentes.
Na patologia, Dr. José Quaresma já me
deu notícia ruim, pois estava na lâmina. Costuma adiantar-me resultados de
exames, e em inúmeras vezes me pôde tranquilizar. A palavra câncer tem sua
tonelagem, e espero não ter de ouvi-la. Basta a vez em que o Dr. Quaresma
precisou dizer-me sobre minha mãe: glioblastoma multiforme. Esse mal, no
cérebro dela, a levou em 32 dias.
O radiologista Dr. Augusto Gonçalves
não é médico, é santo. Religioso, tem o nome de Deus na boca, junto com a sua
enorme capacidade de entender o medo e a dor do outro. Demonstra interesse pelo
problema do cliente, vendo com suas máquinas de raios X, ultrassom, tomografia
e ressonância magnética, além do que os outros veem. Parece ter sexto-sentido
ou até mesmo superpoderes. Por palpite, vai além do que foi pedido e descobre
coisas. E que continue a me dar boas novas.
Sou cuidadosa e por isso sigo as
orientações, não ordens, dos médicos com responsabilidade. E que eu possa estar
bem para continuar fazendo pelos meus pacientes aquilo que meus médicos fazem
por mim. Obrigada, doutores!
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Não é privilégio?
ResponderExcluirEu amplio o privilégio tratando os meus pacientes como sou tratada. Sou apenas uma gota no oceano, mas faço a minha parte. Eu me interesso pelo problema do meu cliente. Obrigada pelo comentário.
ExcluirQuem dera se todos fossem assim...Marcar consulta médica pelos planos de saúde de Recife é um tormento!!!
ResponderExcluirE pelo SUS?
ResponderExcluirQue texto bacana! Uma médica agradecendo seus médicos. Que você mantenha-se sempre próxima e amiga desse time de primeira. Parabéns pelo texto, Mara. E um ótimo Natal para você.
ResponderExcluirObrigada Marcelo e José Calvino pela participação. Fala-se tão mal dos médicos, mas é um alento quando temos dores e o médico chega. E é bom também quando podemos reduzir o medo e a dor do outro. E alguma vezes salvar-lhes vida.
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