Carta a Sylvinha
* Por
Evelyne Furtado
Você chegou
pequenininha nessa família de mulheres especiais. Choramos juntas quando nos
vimos pela primeira vez e continuamos
chorando por uns dias até que eu me sentisse digna de cuidar de você.
Fui te amando mais a
cada dia. E chegava a doer esse amor. Não fui mãe convencional, mas dei o
melhor de mim para você. Alimentei-te com o melhor prato que pude fazer. O
único que fiz com perfeição.
Fui crescendo com você.
Deixando de ser menina à medida que você tinha uma febre, uma gripe, uma doença
comum às crianças. Você foi uma menina saudável, graças a Deus, mas passei
algumas noites acordada vigiando o seu sono, medindo sua temperatura, aliviando
sua respiração com nebulizações (lembro de me fechar no banheiro com o chuveiro
quente ligado enquanto te mantinha nos braços, com o peito untado de Vick, para
melhorar sua tosse). Você menina me deu pouquíssimo trabalho e continuou assim,
inclusive na adolescência. Foi fácil educar você. Difícil era não me emocionar
quando você participava de qualquer apresentação no colégio. O meu choro era
incontrolável quando via a minha menininha linda exibindo seus talentos.
Nunca precisei ser
enérgica com você, meu amor, mas houve uma dor que lhe causei – não diretamente
– e que ecoou em mim por muitos anos, apesar de ter a sensação de que você
havia se tornado mais feliz desde então. Uma tarde, você ainda adolescente
disse com todas as letras que tínhamos acertado naquela decisão: você tinha uma
família feliz.
O amor é incondicional
e constante. A admiração só tem aumentado. Ontem ainda uma coisinha linda a nos
alegrar: hoje uma mulher decidida, organizada, inteligente e responsável.
Permito-me babar quando elogiam seu trabalho, sua determinação, sua garra. E o
melhor é que você não perdeu a doçura e a ternura de menina;
De repente a minha cria
afia as asas e dá seus primeiros vôos solos. Está preparada, eu sei. Dá uma
lição de independência e eficiência na mãe mimada que aplaude e se emociona.
Bons vôos, minha flor, mas volte logo porque ando com saudade de você.
* Poetisa
e cronista de Natal/RN
Amor de mãe costuma ser forte e grande. Bonito de se ver.
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