O homem com quem ninguém se preocupa
* Por
Talis Andrade
A vida uma encenação
farsa que represento
sem a mínima vocação -
o reprisado enredo
de escapar ileso
.
A vergonha o medo
me vejam
driblando a fome
me julguem
pelos (ul)trajes
.
a bata
de professor
suja de giz
.
o lavado terno
a gravata
em que se enforca
o funcionário público
.
o engomado terno
passado a ferro
das entrevistas
solenidades e festas
dos jornalistas
.
“O trabalho enobrece”
- a frase gravada na porteira
dos campos de concentração.
.
Se Hitler estava certo
o trabalho liberta
enriquece e engrandece
.
Que aluno lembra o nome de um professor
Quem memoriza a face de um servidor
no birô de uma repartição
Quem realmente se preocupa
o ancião termine nas filas dos bancos
para receber o mínimo salário mínimo
O ancião arraste a aposentadoria
como uma humilhante penitência
O ancião espere a morte
nas filas dos hospitais
quem realmente se preocupa
* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e
Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes
jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal
do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem
11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem”
(Editora Livro Rápido).
Nenhum comentário:
Postar um comentário