O homem no sofá
* Por
Evelyne Furtado
Clara, entra em casa
após o dia de trabalho e encontra um estranho sentado no seu sofá. Ela olha
desconfiada. Ele parece bem à vontade lendo o jornal da tarde, com os pés em
cima da mesa do centro. Clara não sabe bem o que fazer, pois o homem não parece
ser um assaltante. Chega a pensar que entrou no apartamento errado.
Não. Ela está na sua
casa e para completar aquele homem a cumprimenta,com intimidade. O que a deixa
incomodada. Ele a chama pelo nome. Pergunta sobre seu dia. Ela percebe que são
conhecidos, mas não consegue lembrar de onde.
A angústia toma conta
dela que sai de casa correndo. Clara pega o carro e vai ao seu lugar preferido
na praia. Estaciona e de repente as lágrimas começam descer sobre a sua face.
Um pranto incontrolável sacode seu corpo, enquanto a memória vai voltando aos
poucos.
A dor é tão forte que
ela mal consegue respirar, mas ela vai entendendo aos poucos o que estava
acontecendo. Naquele dia ela havia descoberto que o homem que ela amara e
admirara por tantos anos não existia. Ela amara um homem honesto, carinhoso e
de sentimentos nobres, porém descobrira que o homem era um impostor.
A verdade surgiu e
Clara descobriu que vinha dormindo, amando e trocando carinhos com alguém que
mentia e manipulava as pessoas, inclusive ela. A descoberta fez disparar um
mecanismo de defesa e Clara não reconheceu seu marido quando entrou em casa há
poucos minutos.
Agora entendera tudo.
Não voltaria para casa naquela noite; talvez nunca mais voltasse. Mas parte de
si morrera naquele dia. E ela enterraria a parte que tinha amado o homem do
sofá.
* Poetisa
e cronista de Natal/RN
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