terça-feira, 1 de julho de 2014

O homem no sofá

* Por Evelyne Furtado

Clara, entra em casa após o dia de trabalho e encontra um estranho sentado no seu sofá. Ela olha desconfiada. Ele parece bem à vontade lendo o jornal da tarde, com os pés em cima da mesa do centro. Clara não sabe bem o que fazer, pois o homem não parece ser um assaltante. Chega a pensar que entrou no apartamento errado.

Não. Ela está na sua casa e para completar aquele homem a cumprimenta,com intimidade. O que a deixa incomodada. Ele a chama pelo nome. Pergunta sobre seu dia. Ela percebe que são conhecidos, mas não consegue lembrar de onde.

A angústia toma conta dela que sai de casa correndo. Clara pega o carro e vai ao seu lugar preferido na praia. Estaciona e de repente as lágrimas começam descer sobre a sua face. Um pranto incontrolável sacode seu corpo, enquanto a memória vai voltando aos poucos.

A dor é tão forte que ela mal consegue respirar, mas ela vai entendendo aos poucos o que estava acontecendo. Naquele dia ela havia descoberto que o homem que ela amara e admirara por tantos anos não existia. Ela amara um homem honesto, carinhoso e de sentimentos nobres, porém descobrira que o homem era um impostor.

A verdade surgiu e Clara descobriu que vinha dormindo, amando e trocando carinhos com alguém que mentia e manipulava as pessoas, inclusive ela. A descoberta fez disparar um mecanismo de defesa e Clara não reconheceu seu marido quando entrou em casa há poucos minutos.

Agora entendera tudo. Não voltaria para casa naquela noite; talvez nunca mais voltasse. Mas parte de si morrera naquele dia. E ela enterraria a parte que tinha amado o homem do sofá.


* Poetisa e cronista de Natal/RN

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