Solano Trindade
* Por
Clóvis Campêlo
O poeta Solano
Trindade nasceu no Recife, no bairro do São José, no dia 24 de julho de 1908.
Filho de um sapateiro, mudou-se para o Sudeste do país, no início dos anos 40,
vivendo em Belo Horizonte e Pelotas. Depois de um breve retorno ao Recife,
muda-se para o Rio de Janeiro, onde funda o Comitê Democrático Afro-Brasileiro.
Vai depois para São Paulo, onde funda o Teatro Popular Brasileiro fez parte do
grupo de artistas plásticos Sakai de Embu. Também participou do filme “A hora e
a vez de Augusto Matraga”. Faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de fevereiro de
1974.
Antes de emigrar,
porém e se transformar em mais um nordestinado no sudeste brasileiro, idealizou
no Recife, em 1934, o I Congresso Afro-Brasileiro. Dois anos depois, em 1936,
participou em Salvador do II Congresso Afro-Brasileiro. Em 1936, também, ainda
no Recife, fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura
Afro-brasileira, para divulgar o trabalho de artistas e intelectuais negros.
O site Causa Operária,
em texto publicado quando das comemorações dos 35 anos do falecimento do poeta
e militante, disse o seguinte: “Dos escritores negros que deixaram sua marca na
literatura brasileira, Solano Trindade foi um dos mais significativos. Isso
porque foi o primeiro, e talvez o mais contundente a se dirigir, não
impessoalmente a toda a população, mas também, particularmente à população
negra, descrevendo os mais graves problemas sociais vividos pelos negros
brasileiros, e dos quais se tornou um dos mais ilustres artistas”.
Ainda segundo o site
acima citado: “No início de sua vida artística, estudou um ano no Liceu de
Artes e Ofícios, mas abandonou um estudo mais aprofundado em artes plásticas
para se dedicar principalmente à poesia, onde iria se tornar um dos mais
expressivos símbolos nacionais da resistência negra ao racismo e à opressão
social. Sua fase literária mais importante inicia-se na década de 1930, quando
escreve seus primeiros poemas retratando as dificuldades vividas pelos negros
então no país”.
Segundo o Diário de
Pernambuco, em matéria publicada no dia 11/5/2014, quando do 40º aniversário da
sua morte, Solano Trindade nasceu vinte anos após a abolição da escravatura, em
1908, filho de sapateiro mulato e de doméstica cafuza. E mais: “A despeito do
sangue branco e indígena nas veias, não houve confusão a respeito da raça do
menino. Cresceu ouvindo a zombaria:"Oh, meu Deus, matai o Solano. Este
negro feio, de beiço grande". Era pobre e vivia em uma época difícil para
os seus, mas foi capaz de contrariar o determinismo social e econômico para se
revelar um ícone da cultura brasileira”.
“As poesias de Solano
estão repletas de referências aos ritmos, costumes, religiões africanas, além
de mitos e lendas do povo negro. Ele foi pioneiro ao "ressignificar o
ranger dos grilhões, gemidos, murmúrios e silêncios da senzala",
acrescenta a doutora em teoria literária Silvana Maria Pantoja”, ainda na
matéria do DP.
A escultura do poeta
está no Pátio de São Pedro, na esquina com o Beco do Veado Branco, cenário de
um dos mais importantes pólos de animação e de manifestação da cultura negra no
Recife.
No dia em que fizemos
a fotografia acima, a escultura estava com a cabeça coberta por um chapéu de
palha, numa interferência popular bem humorada. Acho que o poeta deve ter
gostado daquilo.
Recife, abril 2015
* Poeta, jornalista e radialista,
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