Urinar:
necessidade básica nos botecos e também nas estações do metrô
* Por
Mouzar Benedito
Você já pegou o metrô
de São Paulo depois de tomar umas cervejas? E baixou uma vontade danada de
urinar? Como fez para esvaziar a bexiga?
Como já estou no que
os babacas chamam de “melhor idade”, que em bom português é velhice mesmo (os
gozadores dizem que é questão de DNA – Data de Nascimento Antiga), andei usando
banheiros de funcionários, depois de tomar umas e outras, pegar o metrô e
desembarcar em alguma estação doido pra urinar. Os funcionários fazem essa
concessão para casos como o meu. Muitos, educadamente, mas uma vez tive que
falar que se não pudesse usar o banheiro deles mijaria em frente à estação,
pois não daria tempo nem para chegar ao boteco mais próximo.
Em outros tempos, uma
vez tive uma baita dor de barriga quando ia do Jabaquara em direção ao centro.
Desci desesperado do trem em uma estação, perguntei onde era o banheiro, e nela
não havia banheiro para usuários do metrô. Peguei o trem seguinte, desci na
estação também seguinte, e nela também não havia banheiro para nós, vis
passageiros. Tive que sair correndo da estação e, por sorte, havia um bar ao
lado dela. Mas para que o dono do bar não implicasse, comprei uma garrafa
d’água antes de pedir para usar o banheiro. Aí voltei para o metrô e paguei
mais uma passagem.
Fiquei injuriado, e
desde então procuro entender o que se passa na cabeça dos responsáveis pelo
metrô, nesse sentido.
“Se beber, não
dirija”, diz uma campanha governamental. É justa. Mas beber, principalmente
cerveja, que é o que mais se consome nos botecos daqui, tem como consequência
inevitável a necessidade de urinar. E aí? O poder público que faz campanha para
que quem beber use transporte público oferece alternativa para o usuário
necessitado de urinar?
É um absurdo que
muitas estações do metrô não tenham banheiros para os usuários desse
transporte.
Já perguntei a
vereadores porque não fazem uma lei obrigando as estações do metrô a terem
banheiros públicos, mas me disseram que isso seria inconstitucional. Por que
inconstitucional? Alguém me disse que o metrô pertence ao governo do estado,
portanto a prefeitura não pode legislar sobre ele.
Mas as estações de
trem têm banheiros para os usuários, assim como as estações rodoviárias para
transporte intermunicipal, interestadual e até internacional.
Alguém me disse também
que marginais, ou simplesmente moradores de rua, usariam os banheiros. Um
“motivo” para que eles não existam. Se for por isso, basta que os banheiros
sejam depois das catracas. Assim, só quem passasse por elas (e portanto
pagassem a passagem ou fossem idosos, que não pagam pelo transporte) poderia
usar.
E no caso de
“marginais”, o metrô tem uma segurança grande, e não teria problema em colocar
um vigilante ao lado dos banheiros.
Estou me lembrando
disso agora porque um bar que eu frequento, pequenininho, com apenas seis
mesas, funciona num sobrado e os banheiros são no andar superior.
Um dia desses o dono
recebeu uma intimação dizendo que tinha que instalar um banheiro para quem tem
necessidades especiais e não pode subir escadas. Ou faria isso, ou seria multado.
Foi à subprefeitura
para ver como resolver isso, disposto até a usar o espaço de duas mesas,
restando só quatro delas para os clientes, para atender a essa exigência, mas
aí lhe informaram que ele já tinha sido multado em mais de cinco mil reais. E
foi informado também que se em quinze dias não apresentasse um projeto assinado
por arquiteto, para construção do banheiro, seria multado de novo.
Ele argumentou que fez
tudo dentro da lei quando abriu o bar, há seis anos, recebeu o alvará para
funcionar e tudo mais. Queria legalizar tudo, mas quinze dias era um prazo
muito curto.
Por que tanta rapidez?
Nos seis anos em que seu bar funciona, com alvará da prefeitura, só uma vez
apareceu lá um cadeirante. Ah, teve mais um usuário com necessidades especiais:
eu mesmo, que tinha feito uma cirurgia e não podia subir escadas. Depois de
beber umas cervejas, fui ao bar ao lado, cujo dono é amigo do dono do bar que
eu frequento, e usei o banheiro dele, sem problema.
Voltando à exigência
da prefeitura, a funcionária que o atendeu, além ríspida e intransigente, foi
grosseira e arrogante. Disse que o alvará dele tinha sido aprovado erradamente,
e que se ele não tivesse condições de cumprir as novas exigências, que fechasse
o bar. Vai ter que demitir empregados? Problema seu e deles.
Não vou citar o nome
do meu amigo, nem do bar, porque ele ainda pode receber represálias, mas já
quer fechar o estabelecimento, deixando alguns trabalhadores desempregados. Se
criaram uma exigência agora, podem criar outras que não terá condições de
atender.
Só para construir o
banheiro, numa casa que não é dele, é alugada, gastaria uma grana (e teria que
ser com projeto de feito por arquiteto e ser submetido a aprovação pela
subprefeitura), e além disso ficaria só com espaço menor para os clientes.
Pois é, os órgãos que
não ligam para o fato de usuários de transporte público, sejam eles portadores
de necessidades especiais ou não, não tenham acesso a banheiros, exigem que um
pequeno comerciante faça o impossível.
Se é que o alvará dele
foi aprovado de forma errada há seis anos, como disse a funcionária municipal,
de quem é a culpa?
Acho correta e
civilizada a exigência de dar condições para que cadeirantes e outros
necessitados possam usar bares e restaurantes. E que todos os novos bares,
deviam ter o direito de funcionar só se atenderem as novas exigências. E também
os prédios novos: todos teriam que ser acessíveis para quem tem necessidades
especiais.
Os pequenos bares que
funcionam há um tempão merecem um pouco de tempo para se adaptar. Quantos bares
de São Paulo seriam fechados se forem impor essa regra imediatamente?
E se estenderem essas
exigências também aos prédios de apartamentos, será que fechariam todos os
prédios construídos pelo BNH, pela Cohab e pelo CDHU? Bairros inteiros, como a
Cidade Tiradentes, com centenas de milhares de pessoas, deixariam de existir?
Olha, eu acho que tem
gente dentro da prefeitura trabalhando contra o prefeito. Só pode ser. A
“teoria da conspiração” pode ser válida neste caso. Parece ter gente agindo
para aumentar a impopularidade de Fernando Haddad, como prefeito.
Quando Erundina tomou
posse como prefeita, teve muitos casos semelhantes. Ônibus “quebravam” em ruas
movimentadas e avenidas, e não paravam junto à calçada, faziam questão de
deixar o veículo no meio da rua, de preferência enviesado. “Culpa da Erundina”,
diziam…
Haddad já está com
popularidade e aprovação bem baixas. Será que tem gente dentro da prefeitura
querendo baixar mais ainda?
Será que é intencional
essa arrogância que faz com que muita gente odeie o prefeito? O certo é que tem
muita gente, inclusive quem votou nele, que já o chama de Prefeito Malddad…
*
Jornalista
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