A gênese dos Viralatas
* Por
Ademir Assunção
Palavras e sons. Um
poeta falando e três músicos tocando. Viralatas de Córdoba é isso. Mas não é
tão simples assim.
Cada música foi
composta a partir das cadências, dos ritmos, das intenções de cada verso e de
cada poema. Foram revestindo as palavras e as palavras foram se revestindo com
os sons, como o esqueleto é revestido de carne e a carne reveste o esqueleto.
O esqueleto é só
esqueleto. A carne é só carne. Quando estão revestidos um pelo outro, se tornam
um corpo. Um corpo que pensa. Um corpo que sente. Um corpo que se apresenta ao
mundo. Um corpo falante, pensante, delirante.
Este corpo está cheio
de intenções.
Este corpo é um
híbrido de poemas, baladas, blues, rock’n’roll, jazz, sentidos e sons que se harmonizam,
sons e sentidos que se completam. Sentidos e sons que podem tirar o sono. Sons
e sentidos que podem embalar o sono.
Este corpo não quer
dizer nada. Ele está dizendo. Não são só as palavras que dizem. Cada riff de
guitarra, cada linha de baixo, cada levada de bateria, cada vocalise, cada
desenho melódico do cavaco-banjo, cada sequência de acordes do violão, cada
nota do berimbau de boca está dizendo algo.
Este corpo, agora, é
indivisível.
Este corpo tem desejos
manifestos.
Este corpo quer tocar
outros corpos.
Este corpo tem alma.
E se você ainda tem
alma, este corpo vai tocá-la.
Ou não.
*
Poeta e jornalista
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