Solução
ou problema?
* Por Pedro J.
Bondaczuk
As novas tecnologias que revolucionam a
vida moderna são, quase sempre, recebidas com desconfiança, e até com variável
grau de resistência, pelas pessoas mal-informadas (a maioria delas), enquanto
não se imponham e não se tornem corriqueiras. E isso é mais velho do que andar
pra frente.
Aconteceu com o tipo móvel de Johann
Guttenberg, com o tear mecânico, a locomotiva a vapor, o automóvel, o avião, o
rádio, a televisão, o computador e agora ocorre com o telefone celular, para
citar, apenas, alguns dos grandes avanços tecnológicos a partir da Idade Média,
mas notadamente dos séculos XIX e XX.
Em relação à TV, por exemplo (e disso
lembro-me muito bem, pois tinha sete anos de idade por ocasião da inauguração
da Tupi-Difusora, o primeiro canal da América Latina, ocorrida em 1950),
dizia-se, na oportunidade, que ela apresentava sérios riscos à saúde. Houve
quem garantisse que a radiação emanada da telinha poderia provocar leucemia.
Outros, do alto da sua “sapiência” (para não dizer, monstruosa ignorância)
asseguravam que o aparelho afetava a visão e poderia, até, causar cegueira.
Bobagens, claro!
Não houve, desde o advento da TV,
nenhum aumento significativo desses males. E nem poderia haver. Mesmo a má
programação, a enxurrada de baboseiras que a televisão joga, diariamente, em
nossa sala, não apresenta os riscos que tantos “especialistas”, psicólogos,
pedagogos, o escambau, dizem que causa.
O problema não reside nesse veículo,
tão útil e tão mal aproveitado, mas na educação, ou, para sermos mais exatos,
na falta dela para um imenso contingente de pessoas. Deixei de assistir a
muitos programas que apreciava por causa da mania superprotetora da minha mãe
que, pelo sim, pelo não, queria prevenir algum eventual problema à minha saúde,
confiando em tais “pesquisadores”. Não perdôo os que inventaram essas bobagens,
sobre riscos imaginários, que não existem e nunca existiram de fato.
Privaram-me de algumas satisfações, posto que por tabela.
A bola da vez, agora (reitero), é o telefone
celular. Trata-se de uma das maiores invenções dos últimos tempos, que facilita
as comunicações e torna muito mais prática a vida dos usuários. Fico imaginando
como seria bom contar com esse aparelhinho, anos atrás, quando era editor de um
jornal. Quantas bobagens dos repórteres (e minhas, obviamente), não teriam sido
cercadas e corrigidas a tempo, antes mesmo da redação dos textos; quantas
excelentes pautas não teriam sido cumpridas, em vez de derrubadas; quantos
atrasos de edição não seriam evitados!
Todavia, “estudos” se multiplicam,
tentando encontrar “chifre em cabeça de cavalo”. Há pesquisadores que (a
exemplo do que aconteceu com a televisão) garantem que a radiação emanada pelo
aparelho expõe quem dele se utiliza a sérios riscos de saúde. Outros afirmam,
no entanto, que nesse aspecto ele é absolutamente inofensivo. Nem uns e nem
outros, todavia, conseguiram comprovar suas teses sem sombras de dúvidas. Tenho
comigo que faz mal é não termos dinheiro para adquirir um!
O Brasil é, hoje, um dos países em que
mais a telefonia celular avançou em todo o mundo. E a expansão desse serviço
não está com cara de parar ou de pelo menos reduzir o seu ritmo. Pelo
contrário! Estima-se que cerca de um
terço dos 202 milhões de brasileiros (por volta de 67 milhões de pessoas) sejam
proprietários do incrível aparelhinho, que se sofistica, mais e mais. Acho,
porém, que essa cifra é subestimada. Deve haver, sim, muito mais celulares do
que pessoas.
Hoje esse aparelhinho é dotado, por
exemplo, de câmeras digitais, que possibilitam fotografar, com comodidade,
rapidez e qualidade, o que quer que seja. Permite enviar e receber e-mails,
toca música, sua tela virou receptor de TV e já há, inclusive, bons negociantes
que se preparam para produzir mini-novelas, com capítulos de três minutos cada,
especialmente voltadas para os seus felizes proprietários.
“Ah, mas o celular aborrece, porque
toca em momentos e lugares inoportunos, como igrejas, cinemas, velórios etc.”,
dirão alguns, com ares professorais. É verdade! Mas essa é uma questão de falta
de educação dos usuários e não de falha da tecnologia. “Bandidos utilizam-se do
aparelho para comandar assaltos, seqüestros e outros delitos”, dirão outros,
certos de que apresentaram argumento decisivo contra o telefone celular. Isso
sequer merece comentário, não é mesmo?
Li, há algum tempo, na seção “Viva Bem
– Medicina & Bem-Estar”, da revista “IstoÉ” (edição número 1891 de 18 de
janeiro de 2006), assinada por Lena Castellón (excelente, por sinal), que
pesquisadores da universidade norte-americana de Wisconsin concluíram um estudo
que mostra que o inofensivo aparelhinho aumenta, e muito, o stress no lar,
sendo causa, muitas vezes decisiva, da separação de muitos casais.
Argumentam,
entre outras coisas, que “os homens atendem muitas chamadas do trabalho quando
estão em casa e as mulheres recebem ligações das amigas e tudo isso na hora em
que a família está reunida”. Reunida onde, cara pálida? Claro, em torno da TV,
à espera do capítulo da novela ou das peripécias do BBB! No quê, num lar com
esse costume, o celular atrapalha? Piora um relacionamento que já não é dos
melhores? Ora, ora, ora... Duvido! Será que esses caras não têm mais o que
fazer? A conclusão parece óbvia, não é mesmo? Não devem ter mesmo!
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Há tempos, li um artigo que afirmava que havia no Brasil mais aparelhos de telefone celular do que brasileiros. Tal qual você, acreditei. Quanto às radiações, falam que aumentam a incidência de câncer no cérebro. Minha mãe teve um deles e não usava celular. Afirmam que as torres de telecomunicações também lançam radiações maléficas a quem está em seu redor. Espero por mais estudos, para verificar com mais vagar esta afirmação. Sobre o aumento da infidelidade devido a internet móvel, isso é fato, ainda que o comportamento das pessoas seja mais influente do que mesmo a existência do aparelho.
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