O fim é que conta
Os
vencedores, cuja existência é tão exemplar que serve de parâmetro
de conduta a gerações e mais gerações, não lamentam tropeços,
fracassos, dores e decepções que a vida lhes impõe. De cada pedra
no caminho, fazem alicerce de castelos de vitórias. Os obstáculos
servem-lhes, apenas, de estímulos para lutarem com mais vigor.
As
perdas são lamentadas, óbvio, mas essas pessoas não se restringem
às lamentações. Erguem a cabeça e extraem lições de erros,
insucessos e frustrações. Têm em mente, e agem face a esse
pressuposto, que o fim é o que conta. Não importa “como”
realizam suas obras, desde que, de fato, as realizem mesmo.
Lógico
que não defendo a premissa de que “os fins ‘sempre’ justificam
os meios”. Não justificam. Ou, pelo menos, não “sempre”. Há
essa justificação se os recursos que empregarmos para erigir nossa
obra-prima (ou outra qualquer e não importa sua natureza) não forem
violentos, aéticos, imorais ou coisa que o valha. Ou seja, desde que
não prejudiquemos ninguém.
Todos
podem ser assim, ousados, determinados, competentes e apaixonados.
Basta querer. Basta ter postura sempre positiva face à vida, ser
persistente no que se faz e transformar “tudo em flores”. Ou
seja, vislumbrar beleza, grandeza e transcendência até onde,
aparentemente, elas não existam.
Felizes
dos que, ao cabo de longa existência, podem olhar para trás e
constatar que aproveitaram as oportunidades que tiveram. Dos que não
têm queixas das circunstâncias que marcaram o tempo que viveram.
Dos que nunca viram, por exemplo, morrer qualquer esperança e
tiveram a ventura de as ver, todas, plenamente concretizadas. Dos que
não se consideram injustiçados e nem duramente punidos.
Convenhamos,
esta não é a realidade da maioria das pessoas, que olha para trás
com tristeza e decepção e percebe que já nada mais pode ser feito
para se sentir ao menos palidamente feliz.. Oxalá possamos, todos,
perto do nosso ocaso, bendizer a vida e só ter motivos para
agradecer, jamais para lamentar. Afinal, guardadas as premissas que
mencionei, o fim é que conta (desde que nobre, construtivo e justo,
óbvio).
As
situações extremas, de turbulência ou de estagnação, por mais
que nos atemorizem e angustiem, encerram preciosas lições, que não
conseguiríamos aprender de outra maneira. Aprendemos pelo
sofrimento. Perdas de entes queridos, de amizades, de empregos ou de
bens, ou doenças e acidentes, entre tantos outros contratempos,
causam-nos, é certo, perplexidade, dor.
Todavia,
todos eles encerram lições que deveríamos nos esforçar por
extrair. O mesmo vale para períodos de estagnação, em que parece
que nunca sairemos do lugar, enquanto vemos outras pessoas, de
capacidade até inferior à nossa, evoluírem, material, social ou
espiritualmente. O sofrimento, embora, obviamente, o devamos evitar,
tende a ser eficiente e implacável mestre.
Viemos
ao mundo com algum objetivo, que temos a obrigação de descobrir
qual é, e cumprir, com competência e entusiasmo. Uma coisa é
certa: não viemos a passeio. Temos uma obra a realizar e quanto mais
extensa, e perfeita, e útil ela for, maior será nosso valor. A vida
não comporta ociosidade e omissões.
Nosso
valor pessoal não está, pois, na nossa origem, na família de que
procedemos e na importância dos nossos ancestrais. Está em nossa
conduta, na capacidade de pensar, construir, realizar e, sobretudo,
servir. Muitos fracassam na vida e se tornam pesos mortos, porque não
se dão conta disso. Tropeçam no meio da jornada e são incapazes de
se levantar. Não se apercebem que o fim é o que conta. É sumamente
humilhante o fato de apenas “durarmos”, e não “existirmos”
para o mundo e até para nossas famílias.
Às
vezes, circunstâncias da vida levam-nos à tentação de jogar tudo
para o alto e de abrir mão dos ideais que nos empolgaram na
juventude. Julgamo-nos castigados por Deus, quando, na verdade Este
não castiga ninguém, por ser a fonte do genuíno amor. Obstáculos
existem, é verdade, e muitos, em nosso caminho, de todos os tamanhos
e intensidades. Mas são essas dificuldades – que nos aborrecem
tanto quando se manifestam – que valorizam nossas conquistas e as
enobrecem.
Há
quem chegue ao extremo de desacreditar de tudo e de todos e que
desista, até mesmo, das pessoas que ama. Nada pior e mais injusto do
que isso. Os obstáculos têm que ser encarados como desafios, até
como privilégios que a vida nos proporciona, por se tratarem de
oportunidades para mostrarmos nosso valor.
Abraham
Lincoln, quando presidente dos Estados Unidos, questionado, certa
feita, sobre determinadas críticas que lhe eram feitas a respeito da
sua maneira de governar, disse que não se preocupava com elas, pois
o final era o que contava. E acrescentou: “Se o fim mostrar que
estou certo, o que se disse de mim não valerá grande coisa. Se o
fim mostrar que estou errado, dez anjos jurando que eu estava certo
não farão diferença”. E não farão mesmo.
Ademais,
o sucesso e o fracasso raramente são permanentes e muito menos
definitivos. Os insucessos, por exemplo, dependendo das
circunstâncias, podem ser revertidos, com um pouquinho mais de
persistência, após criteriosa análise dos pontos em que falhamos.
Já os êxitos podem se diluir num piscar de olhos e desaparecer,
subitamente, se viermos a nos contentar com eles e nada fizermos para
garantir sua consolidação.
Portanto,
nem o sucesso deve ser recebido com exagerada euforia e nem o
fracasso com desânimo. A vida é mutante e as circunstâncias variam
ao sabor dos dias. Tendo isso em mente, evitaremos dissabores
desnecessários e decepções evitáveis. Jorge Luís Borges escreveu
a esse respeito, citando outro escritor: “Rudyard Kipling disse que
o sucesso e o fracasso são dois impostores: ninguém fracassa tanto
quanto crê e ninguém tem tanto sucesso quanto crê”. Embora se
trate de lição óbvia, nem sempre a levamos em conta no curso das
nossas vidas. E muito menos atentamos para o fato de que o fim é que
conta. Ou não é?!
Boa
leitura!
O
Editor.
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