A morte dos pássaros
O
mundo vive, há já certo tempo, a apavorante expectativa de um desastre
catastrófico, de conseqüências imprevisíveis, que tendem a ser muito mais
graves do que o tsunami da Ásia, de dezembro de 2004; o terremoto do Paquistão,
de 2005; o furacão Katrina, que quase varreu do mapa a cidade norte-americana
de Nova Orleans, enfim, de todos os desastres naturais ou provocados pelo homem
dos últimos (alguns dizem que de todos) os tempos.
A ameaça não vem do espaço, de um possível choque de
algum gigantesco meteorito, ou de um cometa, com a Terra. Nem da possibilidade,
sempre presente, da explosão de algum artefato nuclear, dos milhares que estão
estocados nos arsenais dos detentores dessas armas, acidental ou intencional.
Muito menos da ocorrência de algum acidente em uma das centenas de usinas
atômicas existentes no mundo – algumas mal-conservadas, arcaicas e com normas
de segurança ultrapassadas – como o ocorrido em Chernobyll, em 1985, que
espalhou terror e morte na Ucrânia, então território da extinta União
Soviética.
A ameaça em
questão não provém, igualmente, do aquecimento global, do derretimento das
geleiras dos pólos (a maior delas, situada na Patagônia, Sul da Argentina,
sofreu, há dez anos, um gigantesco desmoronamento), que quando ocorrer, tende a
destruir centenas de pequenas, médias e grandes cidades litorâneas e, até
mesmo, países inteiros.
O “vilão” que
vem tirando o sono das autoridades nos últimos tempos, e mobilizando
pesquisadores dos mais diferentes lugares, é pequeno, minúsculo demais,
microscópico, quase invisível até nos mais potentes microscópios eletrônicos,
cujo diâmetro é oito mil vezes menor que o de um fio de cabelo. Mas seu
potencial destrutivo... É aterrorizante! Refiro-me ao H5N1, o vírus da gripe
aviária, que tende, conforme garantem especialistas, caso sofra mutação que o
torne transmissível de pessoa a pessoa, a produzir uma pandemia que, caso seja
configurada, seria incontrolável, com os recursos que a Medicina dispõe hoje.
Quem fez essa
sombria previsão, há já algum tempo (em 2005), e garantiu, até, que a
catástrofe iria ocorrer de fato e em poucos meses (claro que não precisou
quantos, mas graças a Deus errou nisso), foi o ainda hoje diretor do Centro de
Pesquisa sobre Doenças Infecciosas dos EUA e professor da Escola de Medicina da
Universidade de Minnesota, Michael Ostherholm. Como se vê, não foi um maluco
qualquer, atormentado por visões apocalípticas, pregando que os homens se
arrependam dos seus pecados para não serem destruídos pela ira divina, que fez
esse dramático alerta. Foi um cientista de peso, que sabe (presume-se) o que
diz.
Outros
especialistas afirmaram na ocasião que a pandemia iria acontecer em no máximo
18 meses, e que, provavelmente, iria matar em torno de 50 milhões de pessoas!
Até o momento, esta catástrofe não ocorreu, mas isso não garante que não possa
acontecer. Até pode e sem qualquer aviso prévio! Assustador, não é mesmo? As
estimativas eram de que o vírus (cujo nome deriva das proteínas que o formam,
com a letra “H” significando “hemaglutinina”, a “N”, “neuraminidase” e os
números, a quantidade de moléculas de cada uma delas) chegaria ao Brasil, o
mais tardar, até setembro de 2006. Se chegou (e creio que sim) não fez os
estragos potenciais que poderia ter feito. Mas... nunca se sabe. Que Deusm
pois, nos ajude e faça com que nenhuma previsão apocalíptica como essa se
concretize!
Na tentativa
de impedir o avanço da gripe aviária, relativamente frustrada, mais de 100
milhões de aves foram sacrificadas, notadamente frangos, sobretudo na Ásia, mas
não só lá. Fosse mantido esse ritmo original, elas seriam os primeiros seres
vivos da nossa era a serem extintos por completo, como teria ocorrido com os
dinossauros e todos os outros grandes sáurios, há 65 milhões de anos, mas por
razões diferentes das atuais. Ou seja, em virtude do choque de um gigantesco
meteorito, ou de um cometa, com a Terra.
Interessante
é que, em 10 de julho de 1965, há quase 41 anos dessa manifestação aguda da
gripe aviária, escrevi um soneto, que até hoje me intriga, descrevendo situação
parecida com essa. Desconheço o que o motivou. Simplesmente comecei a escrever
e saiu isso aí, que intitulei de “A morte dos pássaros”:
“Morreram
pássaros! Cessou poesia!
O
mundo inteiro se tornou silente...
A
catástrofe deu-se de repente
tornando
a Terra árida e vazia...
A
vida cessou...Nada mais existe!
Nem
os meus versos isentos de metro.
Eu
não existo! Sou simples espectro
imóvel,
inútil, vazio e triste!
Desde
o Brasil ao longínquo Laos,
da
alta Sibéria até a Argentina
e
desde os Alpes à região andina
nas
negras sombras todos se perderam!
Tudo
vazio... Pássaros morreram...!
Cessou
a poesia...! Já reina o caos!”
Seria
premonição? Seria mero acaso? Seria delírio? Não sei. Tomara que não seja nada
disso. O que será que me motivou a
escrever estes versos, que hoje soam proféticos, embora, convenhamos, sem
nenhum valor literário? É arrepiante! Felizmente, por enquanto, não ocorreu a
propalada mutação do vírus H5N1 e o contágio do vírus se dá, somente, por
contato direto com as aves contaminadas.
Tomara
que todos os especialistas estejam errados, que o agente patogênico seja
erradicado da Terra antes de se tornar um mutante e que a morte dos pássaros
não passe de um delírio de um poeta, normalmente equilibrado, mas que pode ter
sido vítima de uma dessas fantasias absurdas, frutos de medos secretos, mas sem
a mínima possibilidade de ocorrer. Tomara!!!
Boa
leitura!
O
Editor.
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