O mistério do sonho
O sonho... O que é o sonho? Vocês já se fizeram essa
pergunta? Provavelmente sim. Eu faço-a com constância, contudo nunca cheguei a
uma conclusão que fosse minimamente convincente. Não me refiro, aqui, áqueles
desejos íntimos, muitas vezes tão secretos que não revelamos a ninguém, nem à
pessoa na qual depositemos irrestrita confiança. Não é nisso que estou
pensando. E nem penso nos ideais de extrema dificuldade de se conquistar, que
desejamos ardentemente e que, se realizados, justificariam, até, nossa
existência. Essas duas situações também são classificadas, posto que metaforicamente,
de sonhos.
Refiro-me áquelas histórias, uma espécie de filmes nos quais
somos protagonistas, que nos passam na mente quando estamos dormindo, a imensa
maioria das quais esquecemos completamente tão logo despertemos. Só conseguimos
nos lembrar de alguns poucos, daqueles que temos na fase do sono que chamaria
de semi-consciência, ou seja, quando prestes a acordar. Pois é, o que é o
sonho? Há muitas explicações, algumas ditas científicas, outras partindo para o
campo da magia, da fantasia ou até da superstição. Mas nenhuma delas nunca me
convenceu. Para mim, tanto umas, quanto outras, não passam de especulações, de
palpites, de meros chutes. Explicar, mas explicar mesmo, com a respectiva
comprovação, ninguém ainda explicou. Não de forma convincente, que não deixe o
mínimo laivo de dúvidas. Creio que jamais explicará.
Há quem se julgue habilitado a interpretar sonhos alheios.
Até “dicionários” a esse propósito há, e em grande quantidade. Mas eles são
passivos de interpretação? Ora, ora, ora... Se nem os nossos conseguimos
entender o que são – se são meras fantasias da mente, do subconsciente, quando
livre da vigilância da razão ou premonições, avisos, alertas – imaginem os de
outros!! Nos de terceiros, temos, antes e acima de tudo, que confiar na
veracidade da narrativa de quem sonhou. Ou não? E como saber se essa pessoa
está narrando fielmente o que “viu” quando dormia? Como ter convicção de que
não está, se não mentindo, pelo menos fantasiando? Não sabemos! Não há,
convenhamos, como saber. Não existe nenhuma forma de comprovar. É algo sumamente
íntimo, estritamente pessoal, impossível de ser compartilhado.
Já li muitas, e excelentes, histórias, em que os personagens
agem em função de seus sonhos. Posto que bem urdidas, não passam de fantasias
de quem as escreveu, provavelmente (vá se saber!) com fundo “zero” de realidade
e, portanto, de verdade. Há quem acredite que quando dormimos, nossa alma sai a
passear, sem destino, pelo mundo. Claro, é questão de acreditar ou não. Que me
perdoem os que acreditam nisso, mas para mim tal crença não passa de
mega-disparate. Não ponho a mão no fogo, óbvio, mas é o que penso.
Referências a sonhos, no sentido metafórico, no de desejos
ardentes e de ideais difíceis de conquistar, há em imensa quantidade. Clarice
Lispector escreveu, por exemplo, que “há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la”. Óbvio que não sonhamos, no sentido literal, o tempo todo com ela.
“Desejamo-la”, que é outra forma de sonhar. Outra citação, no sentido de ideal,
é uma frase famosa do ex-Beatle John Lennon. Aliás, quase tudo o que ele disse
ou escreveu ganhou enorme notoriedade, sobretudo após seu assassinato. O famoso
astro afirmou: “Um sonho que sonhes sozinho, é apenas um sonho. Um sonho que
sonhes em conjunto com outros é realidade”.
Querem outra citação, dentro dessa mesma linha? Partilho
esta, do “mago dos heterônimos”, Fernando Pessoa: “Matar o sonho é matarmo-nos.
É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de
impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso”. Ou esta, do já saudoso Gabriel
Garcia Marquez: “Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos
porque estão ficando velhas. Elas estão ficando velhas porque pararam de
perseguir os sonhos”. Ou esta, do autor dos “Lusíadas”, Luiz Vaz de Camões: “Coisas
impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las”. Ou então esta outra, da
poetisa portuguesa Florbela Espanca: “Não costumo acreditar muito nos sonhos...
porque de todos se acorda”.
Citações há muitas, referindo-se a esse fenômeno não sei se
fisiológico ou se anímico e ao seu significado metafórico. O que jamais
encontrei foi uma explicação lógica, plausível e indiscutível para o que ele é.
Para mim, portanto, o sonho continua sendo o que sempre foi: um mistério!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Não nos lembramos dos sonhos, e quando o fazemos misturamos o que foi nessa noite, com outros anteriores. Num instante esquecemos tudo. Talvez, se escrevêssemos, ficasse um pouco mais na memória. Dizem os psiquiatras que durante o sonho não há censura, mas quando acordamos já vamos podando parte do que aconteceu. Por isso não nos lembramos deles.
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