Rumo
a 2018
* Por
Adelcir Oliveira
Trem
noturno para Grajaú. Eu parafraseava o bom filme "Trem noturno
para Lisboa", com o excelente Jeremy
Irons. Dirigia-me para a casa da minha bela namorada, Marilene
Sabino, chamada por todos de Mari. No twitter publiquei minha
paráfrase, citando dois fatos que vi. Uma roda de jovens, em que
observei a palavra mais repetida por eles: "mano". Depois,
uma dupla feminina. Que cantava música gospel. Desafinação e
pseudo entusiasmo. É assim mesmo: eu não creio no entusiasmo do
religioso. Se existe, é inventado, e o prazo de validade é curto.
Era
uma noite de sábado. Eu trabalhara sete horas. Tive a boa cia do meu
grande amigo Alan Davis, já mencionado aqui. Somos "amigos de
copo e de cruz". Fazemos parte do regime CLT dentro da
instituição que nos emprega. E temos objetivos diferentes. Alan
estuda para se tornar professor universitário. Eu caminho para o que
chamo de fórmula híbrida: CLT + trabalho autônomo.
São
rumos e são buscas. E a vida segue. Tentar é importante, isso é
dizer mais do mesmo. E no que se tenta, estratejar é fundamental. E
isso são lições aprendidas durante a vida. Foi o tempo de passo em
falso. Já passamos dos 40 anos.
Ia
para o Grajaú, subdistrito em que mora minha linda e adorável Mari.
Teríamos algum tempo juntos. Faz sete meses que namoramos. Eu que
passei anos sem uma namorada, vivendo de escassas e inúteis
aventuras. Demorava. O tempo ia passando. Eu, solteiro. Negando
pretendentes. Sendo questionado. Advertido que escolhia demais. Mas
permaneci na minha posição. Escolhi. Não que houvesse tantas
opções. Elas existiam, eram poucas, sim. E mesmo nessa
escassez eu negava as mãos (e todo o resto) às pretendentes. Até
que surgiu a Mari. E, passadas algumas dificuldades, o ajuste da
sintonia se deu. E hoje navegamos juntos em mar de harmonia e muito
amor. Mari é de fato a única mulher que amei de verdade.
Da
estação Pinheiros até a estação Grajaú são muitas paradas. E
eu vou lendo notícias ou conversando com a Mari por meio de
aplicativos. E reflito. Eu quase sempre faço isso. Tenho refletido
muito. Bastante tempo sem escrever, mas absorvendo informações e
observando muito.
É
comum o chamado "shopping trem" nos vagões da CPTM e Metrô
aqui em São Paulo. E são muitos os vendedores. Jovens, em sua
maioria. Em busca da autonomia e lucros acima de salários baixos e
cargas horárias excessivas. Não que estes jovens vendedores
trabalhem menos horas. Mas se extenuam de tanto trabalhar, é por
conta própria, como costumam dizer.
Fábio
é sobrinho do meu outro grande amigo, o Gama. Trabalhava comigo na
mesma empresa que o Alan Davis. Foi demitido após uma reestruturação
na empresa. E ele queria ser demitido. Só não esperava que seria
demitido do seu outro emprego. Daí, fiou-se às vendas. Inscreveu-se
como microempreendedor, pagando o INSS todo mês. Hoje Fábio tem uma
renda maior da que tinha com dois salários. Trabalha muito, sem
dúvida. Mas não tenho má vontade, nem a preguiça de quando era
empregado, diz o jovem empreendedor.
O
fato é que a carteira assinada será cada vez coisa mais rara nos
anos vindouros. É a chamada "pejotização" da economia.
No Brasil já foi aprovada a terceirização geral. Muita gente vai
virar prestadora de serviços sem registro em carteira. Ou seja, será
contratada com pessoa jurídica: PJ.
Há
aqueles que temem o futuro. Eu vibro. Sim, tenho muito otimismo. Mas
comigo, não com o país. Eu penso firmemente que ganharei mais
dinheiro nos próximos anos. Claro que todos estamos em função do
que ocorre economicamente no país quando se fala em dinheiro e
trabalho. Neste sentido, parece-me que o ambiente econômico aqui vai
melhorar. Teremos novos investimentos. Menos desemprego e uma
população menos endividada e mais confiante para novos gastos e
tomadas de empréstimos.
Claro
que seguiremos um país com graves problemas sociais relacionados às
desigualdade e enorme violência justamento por conta da citada
desigualdade. Sobretudo por que teremos muito provavelmente governos
alinhados à agenda neoliberal, cuja principal característica é
governar para grupos reduzidos, contemplados a partir das classes
médias. Abaixo disso, as pessoas que fiquem com sua própria sorte.
E
quem será o candidato vitorioso alinhado à agenda neoliberal. Eu
acreditava firmemente que seria o prefeito de São Paulo João Doria.
Mas política requer análise constante. Hoje penso que Geraldo
Alckmin pode ser favorecido pelo chamado voto útil contra duas
ameaças altamente conservadoras: Bolsonaro e Doria. Um nos costumes,
outro na economia.
O
Jornal Financial Times afirma que Bolsonaro será eleito. Doria diz
que as ideias de Bolsonaro são frágeis e vão se desidratar durante
a campanha. Eu concordo com o prefeito, e creio que o deputado
carioca chegará em quarto ou terceiro lugar.
A
corrida presidencial segue. Lula deverá ficar de fora por uma
condenação em segunda instância. Com isto, o PT não terá um
candidato com a musculatura do ex-presidente. Marcará território,
nada além disso. De certo, ficará de fora do segundo turno, se
houver. A esquerda terá Ciro Gomes e Marina Silva como principais
candidatos. Dividida, com a presença ainda do PSOL, dará espaço
para a direita decidir entre seus candidatos as vagas no segundo
turno ou uma vitória já em primeiro turno. E é nessa fraqueza e
divisão da esquerda que vejo a oportunidade para Alckmin rumar à
vitória, recheado de voto útil de progressistas, temerosos de uma
vitória mais ainda à direita do Doria ou Bolsonaro.
Muita
água ainda vai rolar. A Lava-Jato ainda ameaça o atual governador
de São Paulo. Aécio e Serra já ficaram para trás. Cabe a Alckmin
engolir sua cria: João Doria. Livrar-se de eventuais denúncias.
Lula deverá morrer na praia. Marina não vai muito além dos 20% de
voto. Ciro não tem força. Bolsonaro é só uma onda. E Doria pode
ser derrotado pelo voto útil em Alckmin.
Aguardemos
os próximos lances no tabuleiro de 2018. Nossa frágil democracia,
que anda sendo contestada, passa por um teste difícil. Deverá
sobreviver. Mas certamente tem dado passos para trás em relação ao
seu fortalecimento. Se tivermos eleições no ano que vem, já
deveremos nos dar por contente. Quanto ao resultado, que seja o menos
pior para o Brasil.
*
Blogueiro e corretor de imóveis.
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