Esperança
abraâmica
* Por
Frei Betto
Diz
o livro do Gênesis que Abraão – patriarca do judaísmo,
cristianismo e islamismo – “esperou contra toda esperança”. A
atitude retrata o que vivemos hoje no Brasil. Onde colocar a nossa
esperança?
Trocou-se
um governo ruim por outro muito pior. As políticas sociais estão
sendo esgarçadas. A reforma trabalhista anulou direitos conquistados
nos últimos 80 anos e sucateou a força de trabalho do brasileiro. O
país está à venda para o capital estrangeiro. Em pleno século XXI
ainda debatemos o fim da escravidão!
Os
três poderes da República estão desgastados. O Executivo é
chefiado por uma quadrilha. No Legislativo predominam corruptos e
oportunistas. O Judiciário carece de credibilidade, atrela-se ao
partidarismo, abre mão de suas prerrogativas, como punir
parlamentares, e se enreda em suas divergências internas.
Ah,
teremos eleições ano que vem! Ora, engana-se quem deposita as suas
esperanças em um avatar. Ou em um Iluminado que, do alto de seu
cavalo branco, haverá de brandir a sua espada da moralidade, da
ordem e do progresso, e recolocar o Brasil nos trilhos.
Há
que ser realista: o perfil do Congresso a ser eleito em 2018 não
será muito diferente do atual. A bancada do B (banco, bola, bala,
boi e Bíblia) é muito poderosa. Embora esteja proibido o
financiamento de campanha política por empresas, o poder econômico
haverá de encontrar meios para financiar os conservadores que, hoje,
dominam a política brasileira.
Se
alguém lhe perguntar, estimado(a) leitor(a), em quem você votará
para deputado federal e senador ano que vem, o que responderia? E
para presidente da República?
Talvez
você se inclua entre aqueles que já perderam até o último fio de
esperança e, portanto, pretende anular o voto ou se abster nas
eleições. Direito seu. Porém, é bom lembrar que em política não
há neutralidade. Quem não gosta de política é governado por quem
gosta. E ao dar as costas à política você passa cheque em branco
aos atuais caciques políticos.
Nossa
esperança não deve se centrar em nomes, e sim em programas. O que
pretendem os candidatos a presidente? Qual o programa de governo? Vão
impedir o desmatamento da Amazônia, combater o trabalho escravo e
defender as reservas indígenas e quilombolas? Vão aprovar a reforma
tributária com imposto progressivo, e punir rigorosamente os
sonegadores? Haverão de priorizar os direitos dos pobres ou o
privilégio dos ricos?
Coloco
a minha esperança no grão de mostarda. Nos movimentos sociais. Nos
que lutam por terra, moradia, saneamento e direitos sociais. Nos que
combatem o feminicídio, a homofobia, o racismo e o fundamentalismo
religioso. Nos que defendem a igualdade de gêneros e a diversidade
de crenças religiosas.
Uma
nação se muda de baixo para cima. São as raízes que sustentam a
árvore. São os alicerces que mantêm a casa de pé. Nosso voto deve
cair na urna como semente promissora de um futuro melhor para o
Brasil. Futuro de menos desigualdade, mais justiça social, mais
saúde e educação de qualidade para todos.
*
Frei Betto é escritor, autor de “O que a vida me ensinou”
(Saraiva), entre outros livros.
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