Onze
anos de História
* Por
Mara Narciso
Gente,
vamos deixar de estória? Eu não gostava de História. Tive uma
professora no Ginásio, hoje Ensino Fundamental Maior, que nos dava
aulas de cabeça baixa, lendo o livro de textos, ora sentada, ora
andando, no último horário. Uma pena eu não ter aproveitado esse
tempo para aprender. Apenas depois entendi que o valor mais precioso
não é o dinheiro e sim o tempo, e este precisa ser bem aproveitado.
E é isso que se vê nos 11 anos de existência do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros, a “Casa de Simeão
Ribeiro Pires”, que funciona à Rua Coronel Celestino, 140, e é
eficaz no bom aproveitamento dos recursos. Lá são 100 cadeiras, num
grupo heterogêneo em profissões e diferentes experiências de vida,
sendo muitos não nascidos na cidade, mas ligados a Montes Claros
pelo amor. Há um permanente incentivo de se contar a história,
fazendo o resgate de pessoas, fatos e lugares.
O
Instituto Histórico foi fundado em 2006 por pessoas estudiosas,
escritores, professores, músicos e poetas que investigam e divulgam
a verdade histórica. Estavam desejosas não de escrever propriamente
artigos científicos, mas de, através da memória, entrevistas,
documentos e imagens, contar com a maior fidelidade possível, o que
se passou nessa cidade de 160 anos, de injustas diferenças sociais,
econômicas e de oportunidades. Somos o que somos, porque recebemos o
trabalho de quem esteve aqui antes de nós, e plantou essa cidade,
com as agruras que os pioneiros encontram em seus desbravamentos.
Reconhecemos que nem todos os métodos foram justos e pacíficos, mas
foi o que encontramos, e aos benfeitores rendemos homenagens. Estamos
sobre os ombros dos antecessores, sem os quais nada seríamos.
Aqui
nesse sertão está um milagre, uma cidade de 400 mil habitantes que
atravessa a pior seca de todos os tempos. E se não sabemos o
passado, não entendemos o presente e mal conseguiremos planejar o
futuro. Para isso temos de plantar o bem em nossas crianças, como
nos falou hoje na eleição da chapa única, encabeçada por Dário
Teixeira Cotrim, o confrade Josecé Alves dos Santos. Mais uma vez o
incansável Dário, trabalhador sem tréguas e escultor das letras,
com seus 49 livros publicados, dos quais recomendo “Ensaios
históricos de Itacambira”, retorna ao cargo de presidente da
entidade. Baiano de Guanambi, ele se lembra dos grandes e dos
pequenos.
Aquele
conjunto de mulheres e homens em semelhante proporção é um mix
louvável de temperamentos, estilos e maneiras de pensar, como todo
grupo, porém, que trabalha sem vaidades, com um espírito de alta
cooperação, operando de forma harmoniosa, enaltecendo o trabalho
uns dos outros. Dá gosto conviver com aquelas cabeças pensantes
que, querem sair de dentro das suas paredes e trilhar as ruas da
cidade, mostrando aos cidadãos o que é e o que faz o Instituto
Histórico, uma entidade que tem credibilidade e que a cada seis
meses, publica sua revista em formato de livro, com 150 páginas de
História, contemplando todas as vertentes do Norte de Minas. Vale a
pena conhecer esses livros e o Boletim Informativo, um jornalzinho
mensal criado pelo presidente Lázaro Francisco Sena, que termina seu
mandato ultraprodutivo. Também foram presidentes Wanderlino Arruda e
Itamaury Silveira Teles, cada um com seu estilo, trabalho sério e
irrepreensível.
Hoje,
na eleição por aclamação, mais uma inovação. Os 28 membros ali
presentes, um quórum louvável para um sábado à tarde, falaram
sobre o Instituto Histórico, e de pé e em bom som, cada um
confirmou o seu voto. Ali se apoia a publicação de livros,
incentivando a cultura num convívio de sincero respeito. Ainda
assim, precisamos nos aprimorar, pesquisando, interpretando e
escrevendo sobre o nosso espaço geográfico e os vultos do passado,
para não perdermos a memória e nem o bonde. Por esse caminho
trilharam grandes pessoas. Não podemos deixar de lhes fazer justiça.
*
Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
Que sejam os primeiros onze anos de uma longa e valiosa história.
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