Ourives-mestras
* Por Adelaide
Peters Lessa
Exibo
jóias raras e me prezo
de
ser a vitrinista da poesia
de
brasileira ourivesaria.
Coroa-me
a tiara de Henriqueta,
madrinha
lua de branquinhas tranças,
luar
de pérola em buquê-de-noiva.
Tilintam
braceletes de Cecília
Autografados
pela musa antiga,
Santa
Maria Egipcíaca.
De
Auta, no pescoço, a correntinha
de
ouro com pingentes extraídos
de
uma jazida de ametistas.
Maria
Braga Horta, um camafeu
de
bem-querer esposo, filhos, pátria,
selou
meu peito e me guardei em Deus.
Novas
eu trago ao escrínio da poesia,
as
jóias rútilas de ourives-mestras
de
quem, herdeira, peço a augusta bênção:
De
Stella, um broche em flor, a Leonardo,
diamante
rosa em berço de platina
com
pétalas redondas, turmalinas.
De
gargantilha de granadas, rubra,
de
bíblica romã, sobe a tribuna
voz
de Renata à sua gente muda.
De
Adélia, um par de brincos marchetados
de
azuis cristais de quartzo, um azul raro
na
família dos chips eletrônicos.
De
Astrid, seus anéis, jade e safira,
o
de alamedas, seiva e clorofila,
o
água-de-fonte, som de sensitiva.
Foi
de Marília um medalhão em prata
com
juras de poeta desterrado,
seu
verso aos quinze anos da noivinha.
Resgato
para mim aquele escrínio-lira,
lágrimas
dela beijo, opalas agridoces,
nobres,
intactas, na memória lírica.
*
Professora universitária e psicóloga
Nenhum comentário:
Postar um comentário