O polêmico Nobel de Literatura de 2016
O compositor de música popular (refiro-me, especificamente,
ao letrista) pode ser considerado poeta? Antes que você, preclaro leitor,
responda, deixo aqui minha opinião. Depende! Alguns não somente podem, como
devem e como são de fato, com rótulo ou sem ele, excelentes poetas, mesmo que
jamais tenham publicado qualquer livro de poesias ou se considerem como tal. Já
outros... Valha-me Deus!!! Há tanta letra horrível por aí, tanta infantilidade,
tanto besteirol, que seria enorme burrice (ou puxassaquice explícita ou até
gozação) considerá-los como tal. Seria a avacalhação total da poesia.
Ninguém em sã consciência, com mínimo de bom gosto e de bom
senso, pode negar a designação de “poeta” a John Lennon, por exemplo. Ou,
trazendo o assunto para âmbito doméstico, fazer o mesmo em relação a essa lenda
da MPB que foi Vinícius de Moraes. Ou desconsiderar um Cazuza, um, Renato Russo,
um Cartola, um Orestes Barbosa, um Caetano Veloso, um Djavan e vai por aí
afora. Seria um pecado mortal!!! Todos foram (e os que ainda estão vivos são)
poetas de mão cheia! Estas considerações vêm a propósito da super polêmica
atribuição do Prêmio Nobel de Literatura de 2016 ao compositor e cantor
norte-americano Bob Dylan (na verdade, Robert Allen Zimmerman, seu nome de
batismo).
Esta inusitada, insólita e, sobretudo, inédita decisão dos
membros da Comissão do Nobel da Academia Sueca de Ciências, divide, hoje, as
opiniões mundiais não somente do mundo das letras, mas do das artes em geral.
De um lado, está a enorme legião de fãs do consagrado e mítico astro do rock,
um dos patronos dos hippies, consagrado no histórico festival de Woodstock, cujos membros (milhões, quiçá bilhões ao redor
do mundo), vibram com a pioneira decisão dos jurados, considerando-a mera “questão
de justiça”. No lado oposto, estão os puristas: os escritores de carreira, os
críticos de livros e os mestres de Literatura, entre outros, que veem nessa
atribuição do prêmio literário de maior prestígio internacional a um notório
roqueiro como mera ação de marketing. O leitor, certamente, quer saber minha
opinião a respeito. Até porque, se não fosse para opinar, não se justificaria o
fato de eu tocar nesse assunto.
Caso eu fosse membro da comissão julgadora do Nobel de
Literatura não daria o prêmio a Bob Dylan. Não se trata de contestar sua
condição de poeta. Ele de fato o é, e dos muito bons (diria, excelentes)! Certamente
cumpriu todos os requisitos exigidos como candidato. Teve a candidatura bancada
por reconhecida instituição cultural norte-americana, É escritor de fato, com
dezenas de livros publicados. É poeta dos mais refinados e criativos. Enfim,
estava plenamente apto a concorrer. Ademais, trata-se do artista mais premiado do
mundo das artes. Recebeu, praticamente, todos os prêmios artísticos existentes
(só o Grammy já ganhou por doze vezes), como o Pulitzer, o Globo de Ouro, o
Oscar e tantos e tantos outros que nem consigo me lembrar. Só lhe faltava o
Nobel. Faltava. Não falta mais.
Então por que eu não o premiaria agora, neste ano da graça
de 2016? Pelo simples fato de que há escritores tão bons quanto ele (e milhares
e milhares até melhores), na fila, à espera do reconhecimento, que mais uma vez
não veio. Para a maioria, nunca virá. A nossa representante, por exemplo, Lygia
Fagundes Teles, merece o Nobel muito mais que Bob Dylan. Isso para não lembrar
os milhares e milhares de escritores, brasileiros ou não, injustiçados por
nunca receberem esse prêmio ao longo dos mais de cem anos que ele existe, os
quais nem preciso mencionar, por serem óbvios. O fato da Literatura Brasileira
jamais ter sido mundialmente reconhecida, para mim, é algo imperdoável.
Não quero duvidar da cultura dos membros da comissão julgadora,
mas a mim me parece que eles não sabem bulhufas do Brasil e da nossa cultura. A
mim parece que eles são dos tais que acham que nossa capital é Buenos Aires e
que nas ruas de nossas cidades andam índios em profusão, além de onças, cobras
e jacarés. Não devem gostar de esportes, pois se gostassem, veriam como é de fato
nosso País, com seus defeitos (muitíssimos!) e suas virtudes, que só os
preconceituosos não enxergam ou negam. Teriam acompanhado as exuberantes Copa
do Mundo de Futebol de 2014 e Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. Se queriam
premiar um poeta, por que não premiaram Thiago de Mello, por exemplo? Há muito
que ele vem merecendo um Nobel. Ou estou exagerando?
O leitor mais atento dirá: “ele não ganhou o prêmio porque
não teve a candidatura lançada por nenhuma de nossas entidades culturais.
Simples assim”. É fato (e não se pode negar) que elas também são culpadas
(culpa, aliás, imperdoável) por nossos artistas de todas as artes serem não
apenas “pouco conhecidos” no exterior, mas absolutamente “desconhecidos”. Quem
me conhece, sabe que minha bronca não se trata de nenhum arroubo ufanista. Meus
leitores são testemunhas que não me canso de apontar, e de criticar, nossas
gigantescas mazelas, que são muitas e em todos os campos de atividade
(políticas, econômicas, sociais etc..etc.etc.) Contudo, não sou burro e muito
menos masoquista de não reconhecer nossas virtudes que, no meu entender,
superam, com sobras, nossos tantos defeitos. Enfim, com polêmica ou sem
polêmica, o fato é que Bob Dylan (ou Robert Allenm Zimmerman, como de fato se
chama), tem, desde este mês de outubro, seu nome inscrito para sempre no
competitivo, fascinante, mas superfrustrante mundo da Literatura, com a
conquista do Nobel de 2016.
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
A eterna incompletude de todas as listas e as grandes injustiças acabam na pauta. Esperemos mais um ano.
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