O gostinho do
mistério
O conto policial sempre foi, e continua
sendo, considerado como gênero menor, até mesmo marginal, da literatura. Isto,
em termos mundiais. No Brasil, virtualmente inexiste, embora os poucos que se
aventuraram nesse campo o fizeram bem, com talento e competência. Diríamos até
com maestria. Livros e revistas, abordando esse tipo de história, batem
recordes de vendas em âmbito internacional. Constituem-se em verdadeiras minas
de ouro para os editores, que lançam edições e mais edições, em diversos
idiomas e formatos. A inglesa Agatha Christie, por exemplo, sempre esteve na
relação dos "best-sellers" mundiais, com uma produção praticamente em
série, e de ótima qualidade. Mesmo depois de morta, sua obra continua sendo reeditada,
inclusive no Brasil.
Livros de bolso, vendidos em estações
de metrô dos Estados Unidos e Europa, esgotam-se mal são lançados. São edições
e mais edições, com milhões de exemplares somados. Os autores de contos
policiais (além de novelas e romances), no entanto, apesar desse sucesso
comercial, nunca constaram de qualquer antologia, embora alguns tenham feito
fortuna escrevendo roteiros de cinema e televisão. Nenhum deles foi, jamais,
candidato a qualquer prêmio literário, mesmo aqueles de menor importância ou
menos projeção. Essa atitude não passa de preconceito. O gênero é dos mais
difíceis e interessantes. Exige do autor extrema clareza, talento descritivo,
perícia na elaboração de diálogos e uma verdadeira "engenharia" na
montagem dos enredos que prendam o leitor da primeira à última página. Minha
iniciação na ficção foi feita com esse tipo de história. Mais como leitor, é
preciso confessar, do que como autor.
O conto policial é um dos meus gêneros
preferidos. Tive a oportunidade de ler milhares deles, a maioria com qualidade
bastante superior à média. O único escritor reputado nessa vertente, objeto de
estudo dos críticos literários e considerado um verdadeiro clássico da
literatura norte-americana e mundial, é Edgar Allan Poe. E assim mesmo, não por
causa do seu texto ou estilo, mas em decorrência da sua estranha, posto que
fascinante, personalidade. Ou, mais especificamente, da sua atribulada vida,
repleta de desgraças, ele que morreu por causa do álcool, literalmente em
uma sarjeta. No entanto é tido e havido como o "pai" não apenas do
conto policial, mas também do de terror.
Durante anos, colecionei quatro
revistas do gênero que circulavam no Brasil: "X-9, Meia-Noite, Suspense e
Mistério Magazine de Ellery Queen". Familiarizei-me com personagens
imortais, como o detetive Nero Wolff --- descrito como um homem gordo, prático,
sempre trajando um capote cinza e apreciador de amendoins, que consumia às
toneladas. Outro que sempre me fascinou foi Simon Templar, "O Santo",
uma espécie de Robin Hood contemporâneo e tipicamente urbano, que combatia os
fora-da-lei com as armas destes, ou seja, com ilegalidades. É o típico
"ladrão que rouba ladrão".
Em livros, obviamente, li todos os de
Arthur Connan Doyle traduzidos para o português, deliciando-me com as
peripécias de Sherlock Holmes e de seu fiel escudeiro, o doutor Watson. E,
claro, os da "primeira-dama" do gênero policial, Agatha Christie. Além
do prazer que esse tipo de leitura sempre me deu, aprendi em suas páginas a
descrever, com clareza e precisão, cenários das ruas de uma cidade, vestuários,
interiores de residências de diversos estilos, mobiliários e tipos humanos de
todas as camadas sociais. Exercitei diálogos verossímeis, na linguagem falada
pelo povo. Pratiquei o raciocínio dedutivo e armadilhas para induzir leitores a
fazê-lo sem que se apercebessem, de modo a que nunca perdessem o interesse por
uma história antes de chegar ao final dela.
Tudo isso, é certo, encontra-se nos
clássicos do romance e do conto mundiais. Ou em livros de ficção científica --- que para o meu gosto racional, prático,
extremamente pé-no-chão, é fantasioso demais --- ou de época. Ninguém está
propondo aqui uma opção entre um gênero e outro. Um intelectual e,
especialmente, um escritor, precisa ler de tudo, sem qualquer preconceito. Mas
só os contos policiais transmitem aquele toque de suspense e de mistério que
todos apreciamos, embora alguns esnobes procurem negar. Daí minha preferência
por esse tipo de literatura tão marginalizado.
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Li na juventude. Hoje já não me sinto atraída por eles.
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