Nadando
* Por João
Moura Junior
Por
incrível que pareça,
talvez
o melhor estilo
para
um poeta moderno
seja
o estilo clássico ou
nado
de peito. Ele exige
certa
contenção. Você
desliza
n’água mansamente,
como
se hesitasse.
Ao
atingir a borda, é
impossível
virar cambalhota,
daí
talvez ele ser
chamado
clássico, ou
quem
sabe é porque é o que serve
melhor
para se observar
o
que se passa ao redor,
isto
é, fotografá-lo, ou
---
evitando o anacronismo,
e
já que falamos de água ---
espelhá-lo,
visto que o
espelho
é por excelência
a
metáfora do clássico.
Nadar
é como uma cobra:
um
constante enrodilhar-se
em
pensamentos por vezes
nada
sublimes (que belo
traseiro
ali adiante, etc.);
daí,
em vez de estilo clássico,
talvez
fosse mais correto
falar-se
em mescla de estilos.
Nadar:
um poema longo
em
redondilha maior
com
andamento de prosa
em
que é difícil manter
o
mesmo ritmo sempre
(Poe
não dizia que um poema
deve
necessariamente ser breve?).
Começa-se
a
arfar,
os músculos pesam,
respira-se
irregularmente,
o
nado, apesar de
clássico,
agora assemelha-se
a
um poema moderno
(ou
a um desaprendizado),
um
poema que tivesse
uma
piscina por tema,
e
um nadador que insistisse,
já
que escrever poesia
(principalmente
hoje em dia)
é
uma espécie de nada.
Nada.
Nada. Nada. Nada.
*
Poeta
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