sábado, 7 de abril de 2018

A Avenida Guararapes


A Avenida Guararapes


* Por Clóvis Campêlo


Segundo a Wikipédia, a Avenida Guararapes, no bairro do Santo Antônio, no centro histórico do Recife, foi considerada, durante algumas décadas, como o cartão postal da cidade.

Ainda segundo a Wikipédia, foi projetada no final da década de 1920 pelos engenheiros José Estelita e Domingos Ferreira e pelo arquiteto Nestor de Figueiredo, com a finalidade de resolver o trânsito e organizar o comércio do centro do Recife.

Sua construção foi realizada na gestão do prefeito Novaes Filho em 1937, ano em que Getúlio Vargas deu um golpe político e instalou o Estado Novo. Sua ocupação, com os modernos edifícios na época, somente foi possível após Novaes Filho conseguir junto a diversos Institutos de Previdência, Correios, entre outros órgãos, a construção dos prédios. O logradouro teve como primeiras edificações o Edifício Trianon e o prédio dos Correios.

O sistema de transporte coletivo da cidade passou então a utilizar a nova avenida para ponto terminal das linhas que vinham dos subúrbios para o centro comercial, então restrito ao bairro de Santo Antonio. Depois, com a modificação da estrutura de transporte do recifense e o crescimento do seu comércio, os automóveis a utilizaram como estacionamento, o que alterou enormemente sua finalidade original.

Posteriormente, completamente esvaziada e abandonada pela iniciativa privada, voltou a servir como terminal de transporte coletivo, notadamente das linhas que vêm da zona oeste da capital pernambucana.

Nos anos 70, foram plantadas palmeiras nos canteiros centrais da via, visando deixá-la mais aprazível e tropicalizada.

No início desta década, outra modificação foi feita na avenida: as árvores foram derrubadas para a construção da estação do BRT. Segundo matéria em blog do Diario de Pernambuco em 12 de novembro de 2013, foram replantadas nas proximidades do local. A estação está hoje situada em frente à sede dos Correios.

De acordo com a Secretaria das Cidades, a obra fazia parte do projeto Corredor Norte-Sul, exclusivo de transporte rápido de ônibus e não iria alterar as paradas de ônibus ou o itinerário das linhas que já circulavam pelo local. O órgão acrescentou ainda que a retirada da vegetação foi aprovada pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife e pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH). 

Considerada pelos estudiosos como uma das avenidas mais curtas do Brasil, a partir dos anos 80 a via foi sendo abandonada pelas grandes empresas, passando a ser ocupada pelo mercado informal e pelo comércio menor, como as casas de jogo do bicho, farmácias, loterias, etc. Alguns prédios hoje, que foram referência nos anos de ouro da avenida, como o Edifício Santo Albino, na esquina com a Avenida Dantas Barreto, estão abandonados e em processo acelerado de decadência.

Suas calçadas atualmente são ocupadas por ambulantes, engraxates, sapateiros e vendedores de livros usados, os famosos sebistas. Nem de longe lembra o glamour e o charme dos velhos tempos.

Para finalizar, o arquiteto Aristóteles Coelho Pinheiro faz algumas considerações importantes sobre a avenida: "É uma via mais larga do que extensa em comprimento, caso único no mundo. A sua concepção foi boa para os anos 1920, quando atendia ao tamanho da cidade. O Recife começava ali e terminava ali mesmo. Não conseguiram nem manter o ambiente como um cartão postal, com o devido tratamento urbanístico. O projeto foi vítima de soluções apressadas, feitas para atender a interesses políticos diversos, que não o da cidade, do usuário. Hoje, está  transformada num corredor de edificações em pre ruína, entupida de vendedores de quinquilharias. O Recife parece não ter saída...".



* Poeta, jornalista e radialista



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