Relato
de parto
*
Por Cláudia Magnólia
Ser
mãe superou todas as minhas expectativas. Talvez tenha ocorrido
porque nunca fui dessas de abrir a boca para dizer que este era o meu
grande sonho. Era algo que estava em meus planos, sim. Talvez. Se
acontecesse: oba! Se não acontecesse: ok também! Mas, então, não
mais que de repente, me vi grávida. Assim, sem planejar, sem ter
tomado todas as vacinas antes, sem ter começado com o ácido fólico,
sem a mínima ideia de como eu faria dali pra frente. De repente, em
meio a “tô me sentindo esquisita”, em meio a muita sonolência,
lá estava eu com um teste de farmácia marcando dois tracinhos. E um
exame de sangue confirmando: eu seria mãe!
Apesar
da surpresa, não fiquei assustada. Sabia que um bebê seria sinônimo
de felicidade. Me senti segura e feliz desde o primeiro momento. Mas
não foram só rosas. Eu não fazia ideia do que era uma gravidez e,
se já respeitava mulheres grávidas, agora respeito muito mais.
Sabe, nos filmes, novelas e livros, geralmente a mulher enjoa,
descobre que está grávida, passam os meses e tchan-raaaan: nasce
uma linda criança! Mas, na prática, não é simples assim. Enjoei
muito até o quarto mês, período em que vomitei (blarg!!!) quase
todos os dias. Sentia dores de estômago. Enxaqueca. E não podia
tomar remédios. Depois vieram a azia, as dores na lombar (ai de mim
se não fosse o pilates), cãibras, tive a temida zica, morri de medo
que algo acontecesse com meu bebê. Tive pesadelos terríveis. Me
senti feia, horrorosa. O cabelo ficou mais ressecado que o de
costume. Muitas noites mal dormidas recheadas de idas e vindas ao
banheiro.
Claro
que tiveram partes boas: muita gente me mimou, me ajudou, cuidou de
mim. Nunca estive, nem me senti sozinha. E foi emocionante sentir meu
filho mexer pela primeira vez. E maravilhoso e divertido todas as
outras vezes em que ele mexeu, chutou, “plantou bananeira” na
minha barriga. Ouvimos música, lemos, batemos altos papos. Uma
ligação extraordinária. Antes dele, ninguém havia estado tão
perto do meu coração. Literalmente.
Mas
só me senti aliviada e completa mesmo quando Benjamin chegou
saudável e lindo após dez horas sentindo a maior e melhor de todas
as dores: a dor da vida. Sim, porque viver é bom, mas dói. Eu
falava direto: o mundo aqui fora não é tão quentinho, meu filho.
Mas ele veio, corajoso e lindo e forte para os meus braços. Para os
braços do mundo. Ele veio e mudou a minha vida. Eu, que já me
considerava abençoada e feliz, não tinha noção do quanto esse
sorriso banguela me transformaria.
Acho
até que me adaptei facilmente à nova rotina. Abracei todos que
quiseram auxiliar sem se intrometer. Aceitei com humildade e alegria
toda a ajuda (que não foi pouca, graças a Deus). Mas quando
precisamos ser eu e ele a maior parte do tempo, confesso, foi o
melhor da festa. Nos reconhecemos. Nos encontramos. E logo aprendemos
a cuidar um do outro como ninguém. Como se já estivéssemos nos
cuidando há muito tempo. E não duvido disso.
A
jornada é cansativa, não nego. Por vezes, preciso respirar bem
fundo e ter muita paciência. Mas no final das contas, a exaustão é
só um detalhe. Não importa que às vezes eu só consiga tomar banho
de tarde. Ou de noite. Que eu não tenha hora para almoçar. Que nem
me lembre se escovei os dentes. Que de vez em quando chore de
cansaço. O que importa realmente é sentir o cheiro do meu filho, o
calor do seu corpinho junto ao meu. Vê-lo sorrir sapeca e feliz
depois de mamar. Ou pegar no sono durante a mamada. Ouvir seus
gritinhos de felicidade. Acompanhar suas descobertas. Acalmar seu
choro com meu cheiro, meu colo, meu calor.
Nesses
quatro meses, aprendi mais sobre o amor do que em minha vida inteira.
Ao ver os olhinhos pretinhos de Ben brilhando ao encontrarem os meus,
o meu coração não se aguenta de felicidade e gratidão. Desde que
ele nasceu, me emociono todos os dias, pois em seu sorriso eu tenho a
certeza que sempre busquei: Deus existe. E sim, Ele é maravilhoso.
(*)
Jornalista
que nas horas vagas brinca de escrever histórias. Revisa textos,
elabora pautas, escreve reportagens para um jornal online e publica
textos periodicamente em seu blog: http://pormeg.blogspot.com/
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