Família
reunida
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Por Marcelo Sguassábia
Uma
retrospectiva da obra de Klausten Van Herbert, no MoMa, reacende o
debate em torno de um dos mais célebres quadros da história da
arte: “A Família Reunida”.
Foco
de discussão há anos entre críticos de arte, leiloeiros, marchands
e estudiosos, o sorriso enigmático – especificamente do pai –
parece mais intrigante com o passar do tempo e com a sucessão de
teses acadêmicas das quais é objeto.
No
âmbito estilístico, a influência de Miró é predominante e
incontestável, bem como da arte naif. Mas engana-se quem se deixa
levar por essa definição reducionista.
A
aparente singeleza e a suposta simplicidade da obra são
ardilosamente manejadas pelo artista para ludibriar o desavisado
observador. É como se o autor tivesse a intenção de provocar
discórdia, agindo premeditadamente para polemizar.
No
primeiro boneco, em vermelho, percebemos a ausência de olhos como
uma velada porém não imperceptível crítica à manipulação da
realidade pelos meios de comunicação, que têm na alienação do
ser humano e na subserviência das massas ao status quo o seu
maquiavélico objetivo.
Teóricos
parecem concordar com a interpretação de que a figura materna é
muito possivelmente representada pelo serzinho em azul. A ausência
dos pés retrataria a forçada imobilidade feminina na dinâmica
socioeconômica. É a chamada “arte denúncia”, que nas
democracias mais evoluídas vem encontrando estímulo cada vez maior,
tanto no que se refere ao fomento governamental e aos patrocínios da
iniciativa privada quanto aos espaços de exposição, modernos e bem
estruturados.
Evidente
que, em obra tão permeada por signos subjacentes – e não
raramente despercebidos ao olhar desatento da fruição meramente
estética – seria de se esperar a presença de símbolos
concernentes às sociedades secretas, como a Maçonaria, a Ordem dos
Templários, os illuminati, a Opus Dei e os Rosacruzes. E tais
referências saltam aos olhos: mesmo aos não iniciados, revela-se
óbvio esse intento, materializado em um sem número de elementos
representativos dessas organizações.
Já
a ausência de uma figura em amarelo vem sendo erroneamente
interpretada como segregação à cultura oriental. Em recente
coletiva de imprensa, o consagrado pintor esclareceu que os tons
amarelados, embora não presentes nas pessoas do quadro, consta do
arco-íris ao fundo. No entendimento do autor, isso colocaria o
amarelo e todas as suas conotações étnicas e filosóficas como
parte da natureza e da vida.
Por
último, parece nítido o propósito de Klausten Van Herbert em
atribuir o conceito de ascendência ou elevação às figuras
retratadas. Basta que o espectador repare no aclive da perspectiva
dos pés em relação à base do quadro. Observa-se um ângulo a
elevar-se da esquerda para a direita, o que pode ser entendido também
como uma simbologia das convicções políticas do artista, que como
todos sabem migrou da militância ativa no Partido Comunista para uma
posição ideológica bem mais conservadora.
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Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Só para os iniciados.
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