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Avenida Guararapes
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Por Clóvis Campêlo
Segundo a Wikipédia, a Avenida Guararapes, no bairro do Santo Antônio, no centro histórico do Recife, foi considerada, durante algumas décadas, como o cartão postal da cidade.
Ainda segundo a Wikipédia, foi projetada no final da década de 1920 pelos engenheiros José Estelita e Domingos Ferreira e pelo arquiteto Nestor de Figueiredo, com a finalidade de resolver o trânsito e organizar o comércio do centro do Recife.
Sua construção foi realizada na gestão do prefeito Novaes Filho em 1937, ano em que Getúlio Vargas deu um golpe político e instalou o Estado Novo. Sua ocupação, com os modernos edifícios na época, somente foi possível após Novaes Filho conseguir junto a diversos Institutos de Previdência, Correios, entre outros órgãos, a construção dos prédios. O logradouro teve como primeiras edificações o Edifício Trianon e o prédio dos Correios.
O sistema de transporte coletivo da cidade passou então a utilizar a nova avenida para ponto terminal das linhas que vinham dos subúrbios para o centro comercial, então restrito ao bairro de Santo Antonio. Depois, com a modificação da estrutura de transporte do recifense e o crescimento do seu comércio, os automóveis a utilizaram como estacionamento, o que alterou enormemente sua finalidade original.
Posteriormente, completamente esvaziada e abandonada pela iniciativa privada, voltou a servir como terminal de transporte coletivo, notadamente das linhas que vêm da zona oeste da capital pernambucana.
Nos anos 70, foram plantadas palmeiras nos canteiros centrais da via, visando deixá-la mais aprazível e tropicalizada.
No início desta década, outra modificação foi feita na avenida: as árvores foram derrubadas para a construção da estação do BRT. Segundo matéria em blog do Diario de Pernambuco em 12 de novembro de 2013, foram replantadas nas proximidades do local. A estação está hoje situada em frente à sede dos Correios.
De acordo com a Secretaria das Cidades, a obra fazia parte do projeto Corredor Norte-Sul, exclusivo de transporte rápido de ônibus e não iria alterar as paradas de ônibus ou o itinerário das linhas que já circulavam pelo local. O órgão acrescentou ainda que a retirada da vegetação foi aprovada pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife e pela Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH).
Considerada
pelos estudiosos como uma das avenidas mais curtas do Brasil, a
partir dos anos 80 a via foi sendo abandonada pelas grandes empresas,
passando a ser ocupada pelo mercado informal e pelo comércio menor,
como as casas de jogo do bicho, farmácias, loterias, etc. Alguns
prédios hoje, que foram referência nos anos de ouro da avenida,
como o Edifício Santo Albino, na esquina com a Avenida Dantas
Barreto, estão abandonados e em processo acelerado de decadência.
Suas calçadas atualmente são ocupadas por ambulantes, engraxates, sapateiros e vendedores de livros usados, os famosos sebistas. Nem de longe lembra o glamour e o charme dos velhos tempos.
Para
finalizar, o arquiteto Aristóteles Coelho Pinheiro faz algumas
considerações importantes sobre a avenida: "É uma via mais
larga do que extensa em comprimento, caso único no mundo. A sua
concepção foi boa para
os anos 1920, quando atendia ao tamanho da cidade. O
Recife começava ali e terminava ali mesmo. Não
conseguiram nem manter o ambiente como um cartão postal, com o
devido tratamento urbanístico. O projeto foi vítima de soluções
apressadas, feitas para atender a interesses políticos diversos, que
não o da cidade, do usuário. Hoje,
está transformada num corredor de edificações em pre
ruína,
entupida de vendedores de quinquilharias. O Recife parece não
ter saída...".
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Poeta, jornalista e radialista
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