A
promessa de um grande amor
*
Por Mara Narciso
No
dia quatro de março de 2018 nasceu Frida, filha de Ana Flor e de um
pai mestiço, meio poodle. Desde que a mãe nasceu, há uns quatro
anos, foi-me prometido um filhote. Mas tive de esperar, pois a
cachorrinha poodle branca de Tia Áurea teve apenas um cachorrinho.
Desta vez, deu certo. Foram quatro filhotes fêmeas, sendo duas
brancas e duas pretas. Escolhi uma preta e dei o nome de Frida. Logo
que soube do nascimento, começamos a romaria. Toda semana, uma
visita, um carinho na mãe e nas filhas, para que nos fôssemos
acostumando.
À
medida que as cachorrinhas foram crescendo, o espaço exigido para o
ninho foi aumentando. Ana Flor, uma grande mãe, aos poucos foi lhes
dando autonomia. Vi a amamentação, acompanhei o desenvolvimento.
Com duas semanas foi-lhes cortado parte do rabo. Eu não queria. Com
44 dias foi-lhes dado o 1º banho, com direito a foto e laço de
fita. Com 45 dias, foi o dia da 1ª vacina. Frida se comportou bem,
mas teve uma febrezinha. Tia Áurea tem habilidade e know-how, porque
criou muitas ninhadas. Conhece os bichinhos e os ama como ninguém.
O
dia 21 de abril foi completamente diferente. A casa perdeu sua rotina
e foi criada outra. Eu nunca tive cachorro, pois morei 26 anos em
apartamento pequeno, e fui casada com alguém que não gostava deles,
então, com boa expectativa fomos, Fernando, meu filho e eu buscar a
cachorrinha. Acordei três vezes à noite, preocupada com a ruptura
afetiva de Frida. Largar a mãe, as irmãs, o ninho e Tia Áurea, a
cuidadora. Estou cheia de receios. Além do filhote, ganhei caminha,
cobertor, pratinho e ração, além de orientação sobre xixi e
cocô, jornal, brinquedos, vacina, essas coisas.
Tudo
estava preparado para recebê-la, como quando a gente traz para casa
um neném recém-nascido. Segurança é primordial. Já tinha
imaginado colocar o cantinho dela no quarto em frente ao meu. Como
tenho asma, não vou deixá-la dormir comigo e nem subir na cama. Não
sei se vou levar adiante esta decisão, pois ela é apenas um neném.
Passamos
num armazém para pegar uma caixa para colocar a caminha dentro.
Conselho de Tia Áurea, que não acha conveniente comprar uma
casinha. Quando chegamos em casa, abri o portão, entramos, Fernando
desceu com ela, ajoelhou-se e explicou que aquela era a sua nova
casa, porém, quando a colocou no chão ela começou a chorar. Eram
nove e meia da manhã, mesmo horário em que meu filho nasceu. Tinha
logo um e depois três degraus impossíveis para ela. Foi colocada
sobre o assoalho encerado e ela deslizou para trás. Estava insegura,
trêmula, com medo. Logo começou a soluçar. Foi quando me decidi a
deitar no chão ao lado dela e fiquei enroscada por um tempo, para
acalmá-la e mostrá-la que não havia motivo para insegurança.
Trouxe a cobertinha e em poucos minutos ela foi relaxando, mordeu a
ponta do tecido e cochilou com seu rosto sobre ela.
Duas
horas depois montei sua caminha dentro da caixa deitada de lado,
coloquei água que ela tomou logo, e após muito carinho, acabou
dormindo por meia hora. Mas começaram os problemas: formiga na
ração, um xixi a cada hora. Depois cocô, em seguida uma raivinha,
novo soluço e começou a roer a caminha, e depois o jornal e as
franjas da colcha da cama. Ela estava insatisfeita e eu tentando
entendê-la. Estou contando minhas emoções, que são também dela.
O que a faz se sentir segura é o contato com o corpo, ficar no colo,
aconchegar-se aos nossos pés. Assim, parece sentir menos a falta do
contato físico com a mãe e as irmãs. Logo estava vencendo os
degraus.
A
1ª noite foi como um plantão na maternidade. A toda hora um choro.
Tive de me levantar cinco vezes para acalmá-la, agasalhá-la,
aconchegá-la, niná-la. Esperta, aprende rápido e logo deduziu que
eu estava sobre a cama. Dava latidos e saltos tão altos, que seriam
dignos de uma competição de decibéis para quebrar cristal como
também de salto em altura, tentando subir na cama. Mas não
conseguiu. Agora, está na casa de Tia Áurea por algumas horas.
Estava muito parada e tive receio de que algo errado tivesse
acontecido, mas está tudo normal. Frida nos trouxe a energia que
estávamos precisando. Estamos os três muito bem diante da promessa
de um grande amor.
*
Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
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