Diretas
Já e as notícias ocultas
*
Por Mara Narciso
O
conhecimento é uma forma de poder. Estudar pode ser cansativo, mas
saber é arma para as batalhas da vida. Fatos se sucedem, e as
noticias desfilam nos jornais. O que temos para hoje? No cardápio
sangue cru, que não é imaginado, e sim visto pelas câmeras de
segurança. Passando pelas fontes midiáticas, nos deparamos com os
mesmos fatos. Na verdade, há um agendamento das notícias que a
população tomará conhecimento, incluindo aí o que os espectadores
falarão a respeito. Teoria da Conspiração? Não. A Agenda Setting
é matéria da Faculdade de Jornalismo. Não fala em manipulação, e
sim em escolha dos assuntos, do enfoque e do viés político. A
Imprensa Livre é uma necessidade, mas para opinar, tem o Editorial.
Nosso
país está dividido em dois lados. Não gostar disso ou daquilo é
normal, mas ter ódio e querer matar eram paixões restritas e não
disseminadas como agora. A Grande Mídia contribuiu para isso. A
Imprensa, além de escolher um lado, define o que o povo pode ver e
com qual interpretação, alterando almas e corações. Insufla,
destaca, critica, despreza, esquece. A escolha das palavras e do
entrevistado fortalece a ideologia da emissora, pois, sem uma voz
contrária, a Opinião Pública segue a sugestão. Sem contar as
ameaças, caso o que querem não se concretize. Quantos comerciais
foram veiculados travestidos de matéria jornalística? Não importa
o desejo do público. A partir do produto que se precisa vender é
criada a necessidade do alvo.
Um
mesmo fato leva a interpretações opostas, de acordo com o
interesse. Opiniões viram noticias. Desta forma, algo real com
acréscimos ou invenções inteiras se dissemina. As redes sociais
multiplicam as fake news ou noticias falsas. Alardear sua existência
e ensinar como checá-las também é uma forma de censura. Aumenta o
poder dos meios tradicionais. Quanto mais improvável, mais depressa
se alastra. Há sites especializados em inventá-las. Muitos não se
importam, mas outros se sentem ridículos quando, sem saber, espalham
boatos.
De
junho de 1983 até abril de 1984, aconteceram 30 comícios pela volta
das eleições para presidente. “Diretas Já”, termo criado por
Henfil, foi um movimento para alterar a Constituição (1967) da
Ditadura Militar, que durou de 1964 a 1985. O Deputado Federal
Dante de Oliveira, que era mato-grossense, fez a proposta da emenda
para voltarmos a escolher o ocupante do maior cargo da nação.
Aconteceu um comício com 50 mil pessoas em Curitiba. A Rede Globo
não o noticiou em nível nacional. Depois, no dia 25 de janeiro de
1984, teve outro comício pelas Diretas Já em São Paulo dito como
comemoração do aniversário da cidade. Então, veio a maior das
manifestações, no dia 10 de abril de 1984, na Candelária, no Rio
de Janeiro, que reuniu um milhão de pessoas e foi comandada por
Leonel Brizola. Perdendo espaço para o Jornal da Manchete, empresa
incipiente, a Vênus Platinada teve de informar. A monografia “A
Cobertura da Rede Globo sobre o movimento Diretas Já: choque de
versões”, na voz de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o
Boni, conta
que o
Comando Militar fez pressão sobre Roberto Marinho, dono da Rede
Globo, vetando a divulgação do fato, pois contrariava seu
interesse. Acuado, Marinho divulgou para não perder público e
credibilidade.
Como
a Rede Globo costuma se posicionar contra as causas populares acaba
entrando em colisão com os desejos do seu público consumidor, mas
este não percebe a manobra. Para quem ainda acredita que, “se não
deu no Jornal Nacional, não aconteceu”, os comícios das Diretas
Já são a prova. Esconder noticia é comum, especialmente quando, ao
repercutir, ferirá os interesses daquele veículo de comunicação.
Então, se por um lado há as fake news, por outro há as hidden
news, as noticias escondidas. Para formar opinião é preciso ir além
da Grande Mídia, visitar fontes alternativas e a Blogosfera. Somos
todos manipuláveis, até mesmo os formadores de opinião, pois, sem
motivo aparente, mudam seu discurso. A dúvida é a única certeza da
internet, assim como das veiculações da Grande Mídia. O que
estaria por trás daquela abordagem?
*
Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia
Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de
Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”
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