Crer para agir
As
pessoas carentes de fé deixam de usufruir de uma imensa fonte de
forças, ao dispor de todos nós, para realizar o que pretendem na
vida. Ao não acreditarem no sucesso de suas ações, deixam de crer,
principalmente, nas próprias possibilidades e potenciais.
Descrentes, não conseguem trazer à tona os imensos poderes que
certamente têm em seu interior, e que nem mesmo sabem (nunca
procuraram saber), ou intuem, que possuam. E nem poderiam. Não
acreditam neles!!!
Quero
deixar claro que quando me refiro a fé, não estou me reportando à
crença religiosa. Não discuto religião com ninguém, e nem por
decreto, por não estar habilitado a tanto e por respeitar crenças e
opiniões alheias, por mais estapafúrdias que pareçam ou de fato
sejam. Teologia, deixo bem claro, não é minha especialidade.
Ademais, minhas convicções pessoais, a propósito, prefiro manter
distantes de olhares indiscretos (ou mesmo discretos, não importa).
À
menor frustração, quem é cético empedernido entrega-se ao
desânimo, ao desencanto e à inércia e, não raro, se anula. Não
tem a que se apegar. Não acredita em nada e ninguém e,
principalmente, em si próprio. Charles Templeton nos lembra que “há
em nós capacidades e poderes que estão além da nossa compreensão.
A fé pode trazer-nos sabedoria para perceber o que podemos fazer e
força para fazê-lo”. Claro que é essencial separar o joio do
trigo. Ou seja, distinguir fé genuína e eficaz da mera superstição,
fruto de imensa e primitiva ignorância.
Carl
Sagan, em “O mundo assombrado por demônios” (1996), trata a
respeito. Adverte sobre as vantagens (e elas existem) e desvantagens
(que são muitas) do ceticismo. Um pouquinho dele é salutar e
desejável. Mas note bem, só um pouquinho. É o que chamamos de
“senso crítico”. Contudo, o ceticismo tem que ser na medida
certa. O difícil é conhecer qual ela é. Complicado é saber os
limites do exagero, tanto para mais, quanto para menos.
Sagan
destaca, no aludido livro: ”Se somos apenas céticos, as novas
ideias não conseguem penetrar em nossa mente. Nunca aprendemos nada.
Se somos tão abertos a ponto de ser crédulos, não podemos
distinguir as ideias
promissoras das que pouco valem. Aceitar acriticamente toda noção,
ideia e hipótese professada, equivale a não conhecer nada. As
ideias se contradizem umas às outras; somente pelo exame cético
podemos decidir entre elas”. Mas... Sem exagerar na dose, aduzo e
reitero.
A
fé, ao contrário do que afirmam os céticos empedernidos (aqueles a
que me referi como exagerados na dose), gera sabedoria. É preciso,
sobretudo, acreditar em alguma coisa, antes de procurar conhecê-la.
Se sequer acreditarmos na sua existência, não buscaremos, é óbvio,
jamais, chegar às suas raízes e fundamentos. Claro que essa crença
tem que ser racional, posto que tudo no universo tem lógica (embora
muitos achem que não) e se prende a inflexíveis leis naturais.
Temos,
em algum momento da vida, súbito lampejo de sabedoria, que varia em
intensidade e duração e de pessoa para pessoa. Cada um tem sua
realidade e seu quinhão variável de capacidade. Alguns esmeram-se
em buscar detalhes dessa centelha, estudam, pesquisam, perquirem e
leem e se tornam sábios. A maioria, porém, fica comodamente à
espera de novos lampejos, que acabam nunca vindo. Perdem, assim, a
oportunidade de chegar à fonte da sabedoria.
Ressalte-se
que saber não implica, necessariamente, em conhecer, embora seja o
princípio do conhecimento. Trata-se da informação bruta sobre um
fato, conceito ou coisa, sem o devido detalhamento. Só o estudo, a
meditação, o raciocínio e a leitura nos levam à plenitude do
conhecimento, em princípio acessível a todos, mas que poucos
conseguem obter. Henry David Thoreau observa a esse propósito, num
dos seus mais famosos ensaios: “A sabedoria não chega aos
espíritos em detalhes; ela viaja nos lampejos da luz celeste”.
Para agir, que é o que importa, por resultar em obras e
consequências, reitero, é condição sine qua non acreditar.
Queiram
ou não, a ação é sempre um ato de fé. Já escrevi inúmeras
vezes a esse propósito, pode parecer que estou sendo repetitivo (e
estou mesmo), mas nunca é demais reiterar. A reiteração tende a
fixar na mente conceitos que convém ter plena ciência.
A
ação é, sobretudo, fruto da crença em nossas forças, nossa
capacidade e nossa criatividade. Não se age, convenhamos, quando não
se acredita nos efeitos da ação, ou seja, nos resultados positivos
dela. A menos, é verdade, que
se esteja sob irresistível pressão, premido pelas circunstâncias,
com risco iminente à integridade física, quando não à vida e,
por isso, em sérios apuros.
Essa
situação, porém, é diferente. Não se trata, propriamente, de
ação, mas de “reação” a determinado perigo ou circunstância.
Agir é sempre contar com a iniciativa. É atuar espontaneamente, sem
que nada e ninguém nos induzam a essa atuação. É fazer o que tem
quer ser feito à nossa maneira e no tempo que julgarmos apropriado
para tal. E essa iniciativa só temos quando acreditamos nos
resultados que irão decorrer da nossa ação. Ninguém se esforça
para perder propositalmente. A derrota pode acontecer, mas se
ocorrer, será à nossa revelia. É como afirmou, com toda a
pertinência, o escritor Romain Rolland: “Agir é acreditar!”. E
acreditar... é ter fé, logicamente.
Boa
leitura!
O
Editor.
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