O valor das idéias
O filósofo, sociólogo e psicanalista
alemão Erich Fromm fez uma afirmação, que soa como alerta, em um de seus tantos
livros, sobre a qual é mister refletir com maturidade e espírito crítico.
Advertiu: “O perigo do passado era que os homens se tornassem escravos. O
perigo do futuro é que os homens se tornem autômatos”. Exagero? Muitos acham
que sim. Da minha parte, entendo que não. De fato, objetivamente, existe esse
risco e ele não é desprezível.
Aldous Huxley tratou, em forma de
romance, desse mesmo tema no seu livro “Admirável mundo novo” (que de admirável
não tem coisíssima alguma). Oxalá jamais a civilização caminhe para o cenário
que ele pintou, em que não há espaço para a individualidade, para a liberdade
de raciocínio e ação, para o direito de fazer escolhas e tudo é automatizado,
imposto, previsível e controlado por uma suposta inteligência superior.
A modernidade é confundida, via de
regra, com permissividade e com a ruptura de todos os freios morais que construíram
as civilizações. Enquanto pequena parcela da humanidade usufrui as “delícias”
de um consumismo desregrado e perdulário, a grande maioria passa fome e milhões
morrem à míngua. Quem sobrevive, enfrenta privações de toda a sorte, sem saber
como será o amanhã, que talvez nem mesmo venha a ter.
Milhões e milhões de pessoas, no
processo acelerado de massificação pelo qual o mundo passa, manipuladas pela
propaganda e induzidas a agir de conformidade com determinados padrões de
comportamento, mediante sutis mensagens subliminares, sequer param para pensar na
razão de suas existências. Não especulam (salvo exceções) sobre seu papel na
Terra, sobre o motivo de viverem e não se importam com isso. Em suma, não se
entendem e nem procuram se entender. Não se estimam e nem se desestimam. Na
maior parte das vezes, apenas se ignoram. Vivem porque vivem, e pronto!
Muitos
confundem otimismo com alienação. Crêem que podem se encerrar numa redoma de
vidro, na qual ficariam imunes aos efeitos dos horrores e das patifarias que os
cercam. Claro que não podem. Essas pessoas agem como se os fatos negativos que
ocorrem ao seu redor não lhes dissessem respeito e não os atingissem. Estão
equivocadas.
Os
que assumem o papel de formadores de opinião (não importa por quais meios)
precisam, sobretudo, de equilíbrio, para captarem com exatidão a realidade, sem
aumentar ou diminuir os episódios negativos e nem passar uma visão
“cor-de-rosa” da vida, não condizente com os dramas, tragédias e comédias do
cotidiano. Como jornalista, a matéria-prima do meu trabalho é o que há de
melhor (raramente) e de pior na natureza humana. São sempre os extremos.
O
fato de trazer à baila crimes, imoralidades, corrupção e devastação do meio
ambiente, entre tantas outras desgraças, não implica, porém, em me classificar
como pessimista, derrotista ou catastrofista. Até porque, se abordo com
equilíbrio estes problemas, sem exagerar nem subestimar nenhum deles, é porque
creio que eles têm solução. Afinal, a cura de qualquer doença depende da
precisão do diagnóstico.
A auto-estima é fundamental para a
conquista e manutenção da felicidade. Para que a cultivemos, porém, é
importante, antes de tudo, que nos conheçamos. A maioria das pessoas não se
conhece e muitas, muitíssimas, não se aceitam e, por não se conhecerem e nem se
aceitarem, não fazem nada para melhorar. São infelizes e acham que isso é
normal. Conformam-se com as desgraças.
É imprescindível que tenhamos a noção
exata do nosso potencial, mas também das nossas vulnerabilidades e dos nossos
limites. Temos que fazer tudo o que for possível para melhorar nossas condições
materiais, intelectuais e/ou psicológicas. Somos os únicos responsáveis pelos
rumos que a nossa vida vier a tomar. É rematada tolice culpar os outros pelos
males que nos aflijam. Todavia, é preciso que nos conheçamos, nos aceitemos
como somos, busquemos melhorar e encontremos prazer no que fizermos.
Um dos maiores cuidados que devemos ter
na vida se refere ao teor e à qualidade dos nossos pensamentos. Eles são as
matérias-primas das nossas ações. Mesmo que não venhamos a nos dar conta,
somos, de fato, o que pensamos. Se pensarmos que somos infelizes, coitadinhos e
fracos, assim seremos. Se nutrirmos pensamentos negativos, de mágoas,
ressentimentos, ciúmes e vinganças, estaremos apostando na infelicidade. E
seremos, por conseqüência, infelizes.
Por isso, o mais inteligente e
produtivo é preenchermos nossa mente com idéias positivas, construtivas e
sadias. É aproveitarmos nosso tempo para conversações que nos acrescentem algo
e que nos melhorem. É lermos livros que nos ensinem, ouvirmos músicas que nos
enlevem, meditarmos e mergulharmos fundo em nossa alma e nos reavaliarmos
periodicamente, na tentativa de sempre evoluir.
A vida não é constituída, apenas, de
tragédias e aflições. Elas existem, e em profusão, não há como e nem porque
negar. Mas as alegrias, a beleza e as satisfações ao nosso dispor são muito
maiores. Basta que as busquemos, com afinco, com coragem e com afã, sem nunca
desanimar.
A educação, em seu sentido mais amplo
(e mais nobre) é a única forma de mudar, positivamente, o coração humano. É
preciso fazer as pessoas pensarem, impedir que se alienem, que se massifiquem,
se apequenem e se automatizem. Trata-se do caminho mais adequado, se não o
único, para redimir a humanidade. A alternativa para ela, não há como negar, é
a catástrofe.
Da maneira que educarmos as gerações
futuras, será como elas irão se comportar quando amadurecerem. Os princípios
que lhes transmitirmos, transmitirão à sua descendência. Se forem educadas para
o bem, a grandeza, a bondade, o amor e a solidariedade, serão estas as virtudes
pelas quais irão se empenhar. Em caso contrário... Restarão poucas esperanças
para a humanidade. Isto, se sobrar alguma.
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
O perfeito equilíbrio do seu texto e das suas sugestões tem a capacidade para melhorar a nossa maneira de pensar. Que se faça a luz.
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