Criando
utopias
O pessimismo é inimigo feroz contra o qual é necessário
lutar sem tréguas e nem descanso. A maioria esmagadora dos livros que temos ao
nosso dispor, por exemplo, nos apresenta só o lado obscuro e torpe da natureza
humana. Raros, raríssimos, ressaltam o que o homem tem de melhor: seu
raciocínio e imenso potencial de grandeza. O mesmo ocorre em relação a filmes,
peças de teatro e outras tantas manifestações artísticas.
Em conversas informais do dia a dia, o que mais se ouve são
críticas aos atos e defeitos alheios, como se os que criticam fossem seres
perfeitos. Não são! Infelizmente, o homem ainda duvida do homem, desconfia
dele, teme-o e o tem como inimigo, em vez de aliado.
Por que, em vez de criticar os defeitos alheios não
procuramos ressaltar suas virtudes? Ou, para sermos mais práticos, por que não
ajudamos, de maneira inteligente e eficaz, essas pessoas tão criticadas a
evoluir, a crescer, a progredir, a reparar as deficiências que nelas detectamos
(que são, via de regra, reflexos das nossas próprias)? Porque a nossa intenção
verdadeira não é a de corrigir ninguém, mas apenas de condenar.
Todos, em alguma medida, têm aspectos positivos em seu
caráter e sua conduta que mereçam elogios e até imitação. Por que não
encararmos a vida pelo ângulo positivo, benigno, belo, considerando o mal e
todas suas manifestações (como violência, mentira, corrupção, cobiça, perfídia
e outros desvios de comportamento) como exceções, jamais como regras?
Desde seu surgimento, o homem sonha com um mundo ideal, de
plena justiça, paz e felicidade para todos. Milhares de utopias foram
engendradas, mesmo quando sequer havia escrita, prevendo essa idade de ouro.
Podemos citar, sem ter que pensar muito, as que foram criadas por Francis
Bacon, Tommaso Campanella, Santo Agostinho, Ralph Bellamy e, principalmente,
por Thomas Morus, a quem devemos, inclusive, a popularização do termo.
E por que esse sonho nunca se concretizou? Porque a maioria
o encara somente como um vago, posto que desejável, ideal. Alguns poucos
visionários dedicaram e dedicam suas vidas à concretização do aparentemente
impossível. Em vez de apoio e adesão, porém, são ridicularizados e tidos como
loucos. Bendita loucura!
É possível que se estabeleça essa utopia dos gigantes da
espécie? É improvável, não impossível. Este é um sonho pelo qual vale a pena
viver e se preciso, morrer. Eu acredito nele! Luto por ele! Empenho o que sou e
até o que tenho na sua concretização. Não por acaso, o meu livro de maior
sucesso chama-se “Por uma nova utopia”. Não por acaso, doei todos os seus
direitos comerciais ao Centro de Defesa da Vida, entidade voltada à prevenção
do suicídio. Amo e valorizo a vida! Creio no homem e tenho confiança no futuro
da humanidade.
Uma das melhores formas de não se deixar abater pelas
agruras do cotidiano é vislumbrar, sempre, o lado positivo das coisas. Tudo
tem, também, o seu avesso, tanto o bem quanto o mal. Nada é bom demais ou
totalmente ruim. Temos, isto sim, é que desenvolver aguçado senso de proporção.
E encarar a vida como ela é.
Não proponho, claro, que optemos por nos alienar e fugir da
realidade, o que é inútil, senão impossível. Sugiro, isto sim, vislumbrá-la em
sua inteireza e integralidade: no direito e no avesso. Temos que viver sempre
embriagados. Não de álcool, óbvio, que nos conduz apenas a paraísos
artificiais, que na verdade são visões do inferno, com seus tormentos e
agruras. A embriaguez que proponho é de beleza, de otimismo, de ideais e de
luz.
Podemos nos tornar, sem que nos apercebamos, no maior perigo
para nós mesmos, entre os tantos que abundam no mundo. Como? Cultivando mágoas,
invejas e ressentimentos, que nos envenenam o espírito e nos tornam amargos e
desagradáveis. Entregando-nos à tristeza, ao desânimo e ao mau-humor, que
inibem nossas melhores potencialidades. Tornando-nos empedernidos céticos,
ridicularizando a fé, nos descartando de esperanças e nos encerrando num
inferno de rancor e antagonismos, que comprometem nossa saúde mental.
E qual o antídoto para isso? Simples! Abrindo-nos para o
mundo, com confiança e sem reservas, mesmo sob o risco de, às vezes, nos
ferirmos. Valorizando os bons momentos e apagando da memória os maus.
Alegrando-nos com o bem que nos ocorra e não dando muita importância ao que de
ruim nos acontecer.
É certo que a insatisfação é a mola-mestra das grandes
realizações. Os satisfeitos com tudo e todos se acomodam e acham que as coisas
devem continuar, todas, como estão. Claro que não devem! Fosse o mundo depender
deles, estaríamos, ainda, com certeza, na idade da pedra lascada, vivendo em
cavernas e dependendo da caça para nos alimentar.
Todavia, a insatisfação deve, sempre, vir acompanhada de
ação. De nada vale murmurar contra determinada situação, mas nada fazer para
que ela seja alterada para melhor. Esse tipo de insatisfeito é nocivo. Só cria
clima de hostilidade e mal-estar, que nada de útil produz e atrapalha os
realizadores.
Sejamos eternos insatisfeitos sim. Todavia, não nos
acomodemos, deixando aos outros as tarefas que se fazem indispensáveis. Sejamos
agentes das mudanças que se impõem. Só assim construiremos um mundo melhor. Só
assim erigiremos a nossa utopia.
Sonho com um mundo perfeito, de harmonia, paz e felicidade,
em que haja absoluta igualdade de direitos e deveres entre as pessoas. Sonho
com um paraíso na Terra em que as contradições que nos dividem e desumanizam
hajam sido superadas. Em que não existam excluídos e exclusores, oprimidos e
opressores, poderosos e humildes.
Sonho com um mundo que prescinda de leis, governos,
exércitos e tribunais, em que todos conheçam, (e cumpram), suas obrigações, sem
necessidade de serem fiscalizados. Em que o amor sem limites seja a única
Constituição dos povos, irmanados em um só ideal, sem fronteiras e separações.
Sonho com um mundo em que estes versos do poeta Thiago de
Mello, no poema “Os Estatutos do Homem”, sejam mais do que mera poesia, mas o
reflexo da realidade:
“O homem/não precisará nunca mais
duvidar do homem
que o homem confiará no homem
como a palavra confia no vento
como o vento confia no mar
como o ar confia no campo azul do céu...”
Sonho com uma nova utopia e luto para que se concretize. E
você, querido leitor, qual é a sua postura em relação a isso?
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Eu também sonho, e apenas sonho, algo desiludida, pois perdi o idealismo. Mas acho bonito isso: "Em que não existam excluídos e exclusores, oprimidos e opressores, poderosos e humildes".
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