O melhor dos tempos
* Por
Assionara Souza
Olha bem atentamente
Como temos corrido
Como temos nos destruído
Uns aos outros em Cristo
Impérios, Maomés, Luciferes
Deuses, Dúvidas, Dívidas
Há uma eletricidade sinistra no ar
Até os pombos andam mais caóticos
A jornada de trabalho esmaga cinicamente
Enquanto, por baixo das mesas, mãos
Maquinam crimes aos milhares
Para serem executados em plena luz do dia
Crime é arte! Bradam os tablóides
E os novos artistas expõem suas obras-primas
O gosto de nossa saliva é sangrento
Nos ombros, um peso constante
Mesmo que nos larguemos
em exaustivos exercícios físicos
Em prol de melhor definir nossos corpos
Somos fortes, indestrutivos
Sorrimos para mil câmeras
E legendamos ações impossíveis
A seres de tempo finito
Urramos sem comoção
A epiderme se agita, goza e se eriça
Madeira queimando em fogo delirante
Áurea máquina da inconsciência
Vivemos compulsivamente
O melhor de todos os tempos
Dispomos de sofisticados grilhões eletrônicos
A partir das quais expandimos tentáculos verborrágicos
Temos fome, devoramo-nos
Embebemo-nos de nós mesmos
Em mil manifestações
Possuídos da mais sofisticada
Genuína e bela composição humana
Forjada no cerne do desespero
É esse o nosso mais depurado modelo
A Forma das formas
E a espuma silenciosa no canto dos lábios se aviva
Nosso sono, sessão de exorcismo
Acordamos pela manhã (pois ainda há manhãs)
Dispersos e banidos
Até que o dispositivo retome
o modo remoto e impulsivo
da fatídica máquina cardíaca
Apressemo-nos!
Eis que é vindo o início
da grande liquidação
*
Escritora
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