Nem tanto ao céu nem tanto à terra
A Literatura tem alguma importância prática em nossa vida,
ou não passa de mero passatempo (posto que muito agradável), uma espécie de
refinado lazer? Essa é uma pergunta recorrente, que faço continuamente, a mim
mesmo e a outros (escritores ou não) e a resposta, invariavelmente, é no
sentido de exaltar, mesmo que moderadamente, seu valor. Nem tanto ao céu, nem
tanto à terra. Trouxe este tema à baila vezes sem conta e, portanto, não é
necessário que meus críticos gratuitos (aqueles que só vêem defeitos no que
escrevo, sem reconhecer qualquer virtude) venham me dizer que estou sendo
repetitivo. De fato, estou! Prefiro, entretanto, afirmar que estou sendo “reiterativo”
e a reiteração é uma espécie de rotina na profissão que exerço: o jornalismo.
Como admiti em uma das minhas tantas crônicas a propósito –
admissão que faço sem nenhum constrangimento – sou suspeito (suspeitíssimo)
para opinar sobre a importância da Literatura, posto que vivo dela. E, há
tempos (mais de 60 anos) em suas duas principais vertentes; na condição de
leitor e na de produtor. Em ambas tive satisfações (muitas) e decepções
(razoáveis). No primeiro caso, tive o privilégio de ler livros que, se não
mudaram os rumos da minha vida (alguns mudaram), determinaram minha visão de
mundo. Contudo, decepcionei-me com determinadas obras literárias (minhas e de
terceiros), até mesmo bem escritas em termos formais, mas... ocas. Totalmente
sem conteúdo. São os tais livros que podem (e devem) ser enquadrados na
categoria de “bonitinhos, mas ordinários”. Não citarei nenhum para não ferir
suscetibilidades e para conservar uma norma que adotei e que, para mim, é regra
inflexível, uma espécie de “cláusula pétrea”: a de não destruir e nem
contribuir para a destruição de nenhum escritor, por pior que ele seja. Entendo
que sempre possa melhorar e, quem sabe, tornar-se “excelente”.
A Literatura, para mim, é muito mais do que meio de
aprendizagem e forma sofisticada e nobre de lazer (embora seja, “também”, tudo
isso). É o meio pelo qual obtenho meu sustento (aí considerando o jornalismo,
que se vale de muitas técnicas literárias e das mesmas ferramentas: as regras
do meu idioma). Entendo, todavia, que a Literatura é muito importante para a
“fermentação” de idéias, para o estudo do comportamento das pessoas e para me
indicar, sobretudo, o que não devo fazer, caso tenha intenção de obter sucesso no
que me empenho e na convivência do dia a dia. Neste ponto estou,
propositalmente, sendo repetitivo. Aliás, na verdade, reiterativo. Contudo,
sou, principalmente coerente. Pelo menos nesse aspecto, não me contradigo.
Todavia, os relativamente muitos anos que vivi alteraram,
ligeiramente, minha visão sobre a importância da Literatura. Quando mais jovem,
imbuído de idealismo, considerava que ela era “absoluta”. Hoje sei, talvez só
intuitivamente, que é apenas “relativa”, Nem é inútil, como acusam os que não
sabem ou não gostam de ler (uma infinidade de pessoas, sobretudo no Brasil,
onde é atividade de risco, eivada de frustrações e decepções de toda a sorte) e
nem essencial à vida, como pretendem os que a produzem (e como eu pretendi há não
muito). O ensaísta escocês, Thomas Carlyle, advertiu a propósito: “A literatura
é o vinho da vida, mas não pode ser o seu alimento” (já citei esta declaração).
A bebida, se tomada com moderação, nos dá prazer. Mas se ingerida em excesso...
embriaga, não alimenta e, para complicar, pode viciar. E vício algum,
convenhamos, é minimamente recomendável
Se a Literatura é importante na vida das pessoas (e estou
absolutamente convicto que é, mesmo que relativamente), qual é seu verdadeiro
papel no estudo dos seres vivos (principalmente dos humanos)? Para quê ela
serve? Para divertir, ou para instruir, orientar, analisar e concluir? Alguém
pode, a esta altura, perguntar: “mas não temos a ciência para isso?”. Temos.
Mas somente ela não basta. A vida (pelo menos para o “Homo Sapiens”, único animal
dotado de razão), não se restringe a leis naturais e imutáveis. Ademais, nenhum
ser vivo reage de forma absolutamente igual. Ela é sutil e não comporta
análises mecânicas e genéricas. Para sua compreensão, são necessários exemplos,
das várias formas de comportamento das pessoas. Ainda assim, somos incapazes de
compreender em profundidade esse maravilhoso mistério, esse privilégio, essa
magnífica aventura que é viver. O escritor, sociólogo e filósofo francês,
Roland Barthes, constatou: “A ciência é grosseira, a vida é sutil, e é para
corrigir essa distância que a literatura nos importa”.
Nem todos livros, todavia, nos ensinam adequadamente, ou
mesmo nos divertem sem nos aborrecer, já que o aborrecimento não se coaduna com
diversão. Diria que, apenas, 10% (sendo sumamente otimista) preenchem uma
dessas condições e um percentual bem menor satisfaz a ambas. Dependem, claro,
do conteúdo, mas não apenas dele. A forma também é importante. Os livros têm
que ser claros, corretíssimos, e em estilo limpo, simples e atrativo. E são
poucos os escritores que conseguem aliar as duas características. Creiam-me,
não estou sendo pessimista. Além do que, a utilidade ou inutilidade de
determinada obra, depende bastante de quem a lê. O polêmico e temperamental
filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, opinou: “Os leitores extraem dos livros,
consoante o seu caráter, a exemplo da abelha ou da aranha que, do suco das
flores retiram, uma o mel, a outra o veneno”. E não é o que ocorre?!!! Pense
nisso!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Dependendo do que a pessoa tem dentro de si, seu conteúdo e seu momento, vê a obra, forma e conteúdo, de maneira até oposta a uma outra pessoa. A releitura pode trazer visão e sensação diferentes, pois na segunda vez é provável que o leitor ainda esteja sob influência da primeira e numa outra etapa. Também com os filmes isso ocorre.
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