Uma informação por favor
* Por
Aleilton Fonseca
Uma noite, meu filho
me ligou, pedindo para ir apanhá-lo na casa de um amigo. Lacônico e despachado,
como todo adolescente, contentou-se em me informar que estava no bairro de
Brotas, no Conjunto Catavento. E desligou. Liguei de volta, mas deu caixa.
Conheço a região mais
ou menos. E achei que acabaria chegando lá no tal endereço sem muito esforço.
Ledo engano. Depois de rodar meia hora sem achar o rumo certo, admiti que
estava perdido. Sem mapa nem paciência, parei o carro numa esquina e abordei
uma velhinha, perdão, digo: uma senhora da melhor idade.
– Boa noite. Uma
informação, por favor!
A boa senhora parou e,
me olhando de esguelha, desconfiada, aguardou a pergunta.
– A senhora sabe onde
fica o Conjunto Catavento?
– Cata o quê? – ela
apertou os olhos e apurou os ouvidos.
– Catavento – repeti.
– Ah, é lá pra cima,
perto da casa de comadre Sebastiana.
– E onde fica a casa
de comadre Sebastiana? – arrisquei, ora!
– Perto do Conjunto
Catavento.
Depois dessa, eu ia
perguntar mais o quê? Fiquei tão abismado que arrastei o carro dali sem sequer
agradecer pela valiosa informação. Segui subindo a rua, prestando atenção aos
detalhes.
Mais adiante, havia
outra bifurcação. Eu precisava escolher um dos caminhos a seguir. E agora?
Felizmente percebi que vinha, a passos calmos, um senhor, também da melhor
idade. Animado, eu o abordei:
– Boa noite. Uma
informação, por favor!
– Pois não, cidadão –
ele disse, solícito e perfilado.
Logo percebi, pelos
olhos e pelos passos, que aquele senhor vinha, no mínimo, de uma animada mesa
de bar. Assim mesmo, continuei a entrevista.
– O senhor sabe onde
fica o Conjunto Catavento?
– Cata quem?
– Catavento.
– Ah, é por ali, olhe.
O senhor vai ali desse lado, e segue, vai seguindo em frente... Chegando ali
não tem minha casa? Então! Quando o senhor avistar minha casa, é logo ali, o
Catavento.
Eu não ia fazer a
bobagem de perder tempo com aquela conversa. Agradeci ao homem e fui indo na
direção indicada. Quem sabe, adiante eu teria mais sorte. Segui em frente, sem
perder a esportiva.
O lugar era realmente
confuso. E eu, cada vez mais atrapalhado, não achava o tal endereço. Havia uma
lanchonete. Parei ali, e resolvi telefonar para o meu filho. Expliquei que
estava perto, porém perdido; precisava de alguma referência.
–Você está onde? – ele
perguntou.
– Em frente a uma
lanchonete.
– Ah, é perto. Olha,
fica aí mesmo que eu já estou chegando.
Pois bem, tanto
melhor. Pus-me a esperar. Daí a pouco, entre transeuntes e automóveis, eis que
vejo de novo o senhor que me dera a curiosa informação. Ele me reconheceu.
Parou, me olhou, veio em minha direção. Próximo a mim, notei que fazia uma cara
de surpresa. Estava muito desapontado.
– Ué, o senhor não
achou? Não me leve a mal, mas eu ensinei certo. O senhor foi que não soube
raciocinar.
– Tudo bem, eu... –
tentei me explicar.
– Eu não lhe disse que
era perto de minha casa?
– É, mas...
– Olhe a minha casa
ali, olhe! – ele apontava com ênfase.
– Qual? — não sei pra
que perguntei isso.
– Aquela lá, pintada
de azul e rosa.
– Ah, sim, estou
vendo...
– Então! Logo depois,
na esquina, já é o Conjunto Catavento.
– Ah, bom...
– Eu ensinei certo, o
senhor foi que não soube achar...
– Me desculpe... – eu
gaguejei, me sentindo um idiota.
– É, mas da próxima vez
tenha mais cuidado – ele disse, tocando na cabeça com o indicador.
Gente, aquilo era
demais! Ele passava dos limites. Eu ia responder alguma coisa a ele, mas meu
filho já chegava e era preciso dar meia-volta. Mesmo assim, arrisquei me
divertir mais um pouco, com aquela situação bizarra.
– Por acaso, o senhor
é marido de dona Sebastiana?
– Sou sim, por quê? O
senhor conhece Sebá de onde? – ele perguntou intrigado, apertando os olhos,
cheio de desconfiança.
– Não, por nada... –
eu disse isso, engatei a marcha e fui saindo de fininho.
Do livro "A
mulher dos sonhos & outras Histórias de humor"
*
Aleilton Fonseca é escritor, Doutor em Letras (USP), professor titular pleno da
Universidade Estadual de Feira de Santana, membro da Academia de Letras da
Bahia, da UBE-SP e do PEN Clube do Brasil.
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