Destino humano nas asas das abelhas?
As abelhas estão desaparecendo. Não me refiro ao seu
desaparecimento do meu quintal, nem da minha cidade, do meu Estado, do Brasil
enfim. Estão morrendo, minguando, se extinguindo. Estão desaparecendo do mundo
todo. A continuar esse ritmo de extinção, em no máximo uma década, esse inseto
tão útil, produtivo e até exemplar, no que diz respeito à sua “organização
social” não passará de lembrança. Aliás, nem disso. Seu desaparecimento implicará,
fatalmente, quase que de imediato, num intervalo estimado em quatro anos,
também no nosso. Não haverá, pois, quem possa lembrar que as abelhas um dia
existiram. Creiam-me, não é nenhum exagero, como pode parecer. Não se trata de
delírio de algum tresloucado catastrofista (o que não sou), longe disso. O
destino da humanidade, por estranho que pareça, está diretamente vinculado a
esse frágil, laborioso e útil (na verdade, indispensável) inseto. Está em suas
asas.
Pelo menos 80% das verduras e das frutas que nos alimentam –
e aos demais animais herbívoros, destaque-se – dependem exclusivamente da ação
polinizadora das abelhas. Sem sua atuação, não conseguem se reproduzir. Em
resumo, sua extinção implicará no fim de importantes fontes de alimentos para o
homem. E, sem comida... Há uns dez anos (pouco mais ou pouco menos), eu havia
lido matéria a esse propósito, em determinado site da internet. Na ocasião,
preocupei-me, sim, com a notícia, mas não muito. A reportagem estava incompleta.
Carecia de dados que comprovassem a extinção em marcha e entrevistas com
especialistas no assunto. Em suma, era o tipo de matéria que se passa por cima,
por ser mal escrita e mal apurada.
Voltei a pensar no tema, todavia, neste 31 de outubro de
2015, ao ouvir o programa “Você é curioso”, na Rádio Bandeirantes de São Paulo,
comandado pela dupla Marcelo Duarte e Silvânia Alves. Claro que a informação
deles não veio detalhada. Mas foi apresentada corretamente, de forma tal a
despertar-me a atenção. Resolvi conferir o quanto havia de verdade nisso tudo e
pesquisar a respeito. E... encontrei uma infinidade de dados, detalhados e
convincentes, a propósito. Minha conclusão é que a coisa está muito mais feia
do que se possa imaginar!!! Feíssima!!!
Por exemplo, nos Estados Unidos – que são a segunda maior
potência em termos de apicultura, abaixo, apenas, da China – cerca de 70% das
populações de abelhas (de todas as espécies, incluindo marimbondos e
assemelhados) já se extinguiram. Essa extinção em massa é tão séria, que o
Congresso norte-americano teve de aprovar um plano de emergência, como faz em
tempos de guerra ou de crise econômica. A situação na Europa não é nada melhor.
Na Itália, Bélgica, Alemanha, França etc.etc.etc. metade das abelhas já
desapareceu! Na Espanha, de acordo com boletim do Ministério da Agricultura, só
entre 2004 e 2007, 3,5 bilhões de insetos morreram.
No Brasil, a coisa não é melhor. O Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está investigando as
causas da extinção e formas de combatê-las. O fato é que nossas abelhas,
inclusive as que foram “africanizadas”, estão se extinguindo. Só no Estado de
São Paulo, estima-se que em torno de 5 mil colméias do tipo ser extinguiram só
neste ano. As causas da extinção são as
mais diversas, mas todas (ou quase todas) têm a ver com a ação do homem. O
aquecimento global, por exemplo, é tido como um dos maiores vilões (posto que
não o único). Sabe-se que as altas temperaturas afetam, entre outras coisas, o
senso de direção das abelhas, impedindo-as de retornem às suas colméias. Os
agrotóxicos são outra das causas. Além disso, a “varroose”, doença considerada
a “Aids” desses insetos, causada por um ácaro (o “varrooa”), vem dizimando
milhões e milhões de espécimes mundo afora.
Acresça-se a isso tudo a ação de um pequeno e voraz escarvelho,
proveniente da África do Sul, que tem causado estragos imensos nas colméias.
Originalmente, em seu habitat natural, ele se alimentava, preferencialmente, de
frutas muito maduras. Não ameaçava, pois, as abelhas. Ao ser levado aos Estados
Unidos, acidentalmente, em móveis e artefatos de madeira, no entanto, tornou-se
um desastre para a apicultura. O presidente da União Nacional de Apicultores da
Rússia, Arnold Butov, alertou: “Este escaravelho come não só as abelhas, mas
também todo o conteúdo da colmeia – as células, os favos de mel, o mel e tudo
mais. O pior é que ele pode ser transportado não só com produtos de apicultura
ou as próprias abelhas, mas também com móveis e artigos de madeira”.
Os polinizadores são tão importantes que 80% da alimentação
humana dependem, direta ou indiretamente, de plantas polinizadas ou
beneficiadas pela polinização. Sem eles, os vegetais dependentes não se
reproduzem. Por conseqüência, as populações que deles necessitam declinam. E a
abelha produtora de mel (Apismellifera) é, disparado, o polinizador de
importância agrícola mais utilizado no mundo. É imprescindível para a
Agricultura e produção de alimentos! Como se vê, a humanidade tem, diante de
si, outro imenso perigo, outro indigesto pepino a descascar, mas... a maioria
esmagadora das pessoas sequer se dá conta. Alguns, quando informados, não só
não acreditam, como ainda ironizam, como se fosse mera anedota, o que, óbvio,
não é. Antes fosse!
Hoje de manhã, por exemplo, ao ouvir a informação, no
programa “Você é curioso”, comentei o fato com alguém, que prefiro não
identificar. Sabem o que ele me disse? “E eu com isso! Detesto mel!!!”. Maldita
ignorância!!! Albert Einstein, questionado a respeito, no início da década de
50 do século passado, quando a extinção desses utilíssimos insetos não passava
de remotíssima e improvável hipótese, alertou: "Quando as abelhas desaparecerem
da face da Terra, o homem tem apenas quatro anos de vida". Exagero? Tomara
que sim!! Eu, todavia, não apostaria nisso. Quem diria que nosso destino, e
mais, nossa sobrevivência podem estar nas asas da frágil e operosa
abelhinha!!!! Sim, quem diria!!!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Eu acredito piamente na proximidade desta catástrofe.
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