O
certinho
* Por Rodrigo
Ramazzini
- Eu quero terminar!
Não quero mais...
- Como assim?
- Como assim, Bruno
Otávio? Acabou!
- Por quê?
- Nosso namoro caiu em
uma rotina. Não agüento mais!
- É?
- É sim! E a culpa é
tua.
- O que foi que eu
fiz?
- O problema não é o
que fazes, e sim, o que não fazes... É sempre tudo igual!
- Como assim?
- Ah! Sei lá, Bruno
Otávio! Tua roupa mesmo: sempre de camisa preta bem passada. Tudo certinho!
- Eu gosto de preto...
Tu também gostavas.
- Gostava! Falaste
bem. Agora, me irrita.
- Mas é que eu
achava...
- Achava nada. Os teus
assuntos também... Sempre os mesmos, sempre girando em torno das mesmas coisas.
Estou de saco cheio!
- Mas nós nem
conversamos muito.
- Este é o problema.
Quando conversarmos é sempre a mesma coisa. Sempre politicamente correto. Nem
me contar uma piada com final indecente, para variar, tu fazes...
- Eu posso comprar um
livro do Ari Toledo, se esse é o problema...
- Não é só isso!
- Tem mais?
- Tem! Os lugares que
tu me levas... Eu quero às vezes pular de bunge jump, fazer um rapel, andar de
kart, fazer uma trilha... Sei lá! Algo diferente. E não ficar com a bunda quadrada por causa
das cadeiras dos restaurantes...
- Eu pensava...
- Nem tomar um porre
nestes lugares tu tomas!
- Eu posso começar a
beber, se quiseres...
- Nem para
protagonizar uma história tu serves... Quando que eu tive que te carregar de um
lugar destes? Nunca!
- Eu...
- Tu nada! Nada mesmo.
Nem o jeito que me beijas tu mudas. É sempre do mesmo jeito! Desde que nos
conhecemos é com a cabeça virada para o lado direito e só!
- Eu posso tentar
trocar...
- Devia ter tentado
trocar antes.
- Mas Lúcia...
- E o sexo então? Não
vou nem comentar...
- O que tem o sexo?
- Ai Bruno Otávio...
Na hora do sexo, eu quero ser pega com força, jogada de um lado para outro...
Transar na garagem, no banheiro, na sala... Aí!
- Ah!
- Cansei de transar na
cama e na mesma posição.
- Se era esse...
- Ser era esse o quê?
- Se era esse o
problema... Se era assim que queria... Era só ter pedido! Ora...
- Ai, ai... Meu Deus!
Ele não entende mesmo... Sabe o qual é o teu problema, Bruno Otávio?
- Ah qual?
- Não sabes?
- Não, né!
- Então eu vou te falar: tu és muito certinho! É isso... Esse é o
problema!
- Mas tu preferes o que: um certinho que te ame ou um desorientado
sem-vergonha?
- Eu prefiro um desorientado que me ame.
- Então! Eu te amo e não sou tão certinho que nem tu imaginas.
- Ah, não é? Então prova!
- Se eu provar, tu prometes que não termina o namoro?
- Prometo!
Bruno Otávio pega o telefone.
- Para quem estás ligando?
- Para a Sandra.
- Que Sandra?
- A sua amiga Sandra...
- O quê? Para a minha amiga Sandra?
- É... Espera... Alô Sandrinha! É o Bruninho, tudo bem? Vamos sair hoje
de novo? Eu sei que pode! Naquele mesmo motel? Combinado. Às 22h. Beijão...
*
Jornalista e contista gaúcho
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