Traços
* Por
Núbia Araujo Nonato do Amaral
Dormi pensando no meu
pai, acordei cedo e ele comigo. Sentei buscando nas lembranças algo mais
pueril, mais ingênuo, mais criança.
Lembrei-me que nos
juntávamos pra desenhar. Ele sempre repetia o mesmo traço, nunca se atrevia mais
e nos acostumamos.
Nos habituamos a um
pai seco, rude, sem muito esboço. Um pai nem sempre tão presente, nem sempre
sorridente. Nos acostumamos com o pai trovão que rugia alto à mesa.
Conforme fui crescendo
o rugido do velho leão foi se perdendo e só me dei conta disso quando comecei a
enxergá-lo como pai. Um pai forjado talvez às pressas, na dificuldade de criar cinco
meninas. Meu Deus! Cinco meninas...
Busco naquilo que me é
possível desenterrar o amor que eu não entendia, busco perdoar na menina
imagens que eu não percebia, busco no velho leão que agora dorme o afago que eu
não reconhecia. Tomara pai, que um dia você nos entenda e que nos traços possamos
resgatar mais do que rabiscos.
* Poetisa, contista, cronista e colunista do
Literário
Nenhum comentário:
Postar um comentário